quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Tô de olho nessa mulher!!

O FIM E O INÍCIODepois de toda guerra
alguém tem que fazer a faxina.
As coisas não vão
se ajeitar sozinhas.
Alguém tem que tirar
o entulho das ruas
para que as carroças possam passar
com os corpos.
Alguém tem que abrir caminho
pelo lamaçal e as cinzas,
as molas dos sofás,
os cacos de vidro,
os trapos ensangüentados.
Alguém tem que arrastar o poste
para levantar a parede,
alguém tem que envidraçar a janela,
pôr as portas no lugar.
Não é fotogênico
e leva anos.
Todas as câmeras já foram
para outra guerra.
Precisamos das pontes
e das estações de trem de volta.
Mangas de camisas ficarão gastas
de tanto serem arregaçadas.
Alguém de vassoura na mão
ainda lembra como foi.
Alguém escuta e concorda
assentindo com a cabeça ilesa.
Mas haverá outros por perto
que acharão tudo isso
um pouco chato.
De vez em quando alguém ainda
tem que desenterrar evidências enferrujadas
debaixo de um arbusto
e arrastá-las até o lixo.
Aqueles que sabiam
o que foi tudo isso,
têm que ceder lugar àqueles
que sabem pouco.
E menos que pouco.
E finalmente aos que não sabem nada.
Alguém tem que deitar ali
na grama que cobriu
as causas e conseqüências,
com um matinho entre os dentes
e o olhar perdido nas nuvens.



Wislawa Szymborska nasceu em 1923, no vilarejo polonês de Bninie. Começou a escrever poesia aos vinte e poucos anos. Em 1949, seu primeiro livro foi censurado pelo regime comunista, que o considerou obscuro demais para as massas. Talvez Szymborska tenha levado a sério a advertência, pois a obra que viria a consagrá-la é de uma desafetação exemplar. A dicção é coloquial, despojada de retórica e efeito poético. São poemas claros como água pura.

Mas é possível espantar-se com a água, e assim é Wislawa Szymborska: ela se surpreende, seja com as miudezas da vida, seja com os horrores da História. É uma poesia do assombro. Há um espanto de natureza quase darwiniana, suscitado pelo fato de estarmos aqui - nós e não outros. Há o que nasce da consciência de que ninguém está no centro de nada, de que o mundo segue adiante sem o nosso testemunho. Quanto à História, Szymborska a enfrenta sem abrir a guarda para sentimentalismos. O pior acontece, e será esquecido

8 comentários:

  1. tô de olho no livro dela pela companhia das letras faz um tempinho! parece maravilhosa, ela!

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  2. uoou! obrigada ada ada cakes, que achado!!!

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  3. muito bom o achado mesmo, e olha que eu odeio poesia! haha
    adorei a biografia dela!

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  4. peraí... que inventou a tag "elemento externo"??

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  5. foi caca! acho que tenho que excluir "exterior", achei melhor "elemento externo"

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  6. Deixa 'exterior' também !! São coisas diferentes e extremamente relevantes para o nosso trabalho na minha opinião...

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