O FIM E O INÍCIODepois de toda guerra
alguém tem que
fazer a faxina.
As coisas não vão
se ajeitar sozinhas.
Alguém tem que
tirar
o entulho das ruas
para que as carroças possam passar
com os
corpos.
Alguém tem que abrir caminho
pelo lamaçal e as cinzas,
as molas
dos sofás,
os cacos de vidro,
os trapos ensangüentados.
Alguém tem que
arrastar o poste
para levantar a parede,
alguém tem que envidraçar a
janela,
pôr as portas no lugar.
Não é fotogênico
e leva anos.
Todas
as câmeras já foram
para outra guerra.
Precisamos das pontes
e das
estações de trem de volta.
Mangas de camisas ficarão gastas
de tanto serem
arregaçadas.
Alguém de vassoura na mão
ainda lembra como foi.
Alguém
escuta e concorda
assentindo com a cabeça ilesa.
Mas haverá outros por
perto
que acharão tudo isso
um pouco chato.
De vez em quando alguém
ainda
tem que desenterrar evidências enferrujadas
debaixo de um
arbusto
e arrastá-las até o lixo.
Aqueles que sabiam
o que foi tudo
isso,
têm que ceder lugar àqueles
que sabem pouco.
E menos que
pouco.
E finalmente aos que não sabem nada.
Alguém tem que deitar
ali
na grama que cobriu
as causas e conseqüências,
com um matinho entre
os dentes
e o olhar perdido nas nuvens.
Wislawa Szymborska nasceu em 1923, no vilarejo polonês de Bninie. Começou a escrever poesia aos vinte e poucos anos. Em
1949, seu primeiro livro foi censurado pelo regime comunista, que o considerou
obscuro demais para as massas. Talvez Szymborska tenha levado a sério a
advertência, pois a obra que viria a consagrá-la é de uma desafetação exemplar.
A dicção é coloquial, despojada de retórica e efeito poético. São poemas claros
como água pura.
Mas é possível espantar-se com a água, e assim é Wislawa
Szymborska: ela se surpreende, seja com as miudezas da vida, seja com os
horrores da História. É uma poesia do assombro. Há um espanto de natureza quase
darwiniana, suscitado pelo fato de estarmos aqui - nós e não outros. Há o que
nasce da consciência de que ninguém está no centro de nada, de que o mundo segue
adiante sem o nosso testemunho. Quanto à História, Szymborska a enfrenta sem
abrir a guarda para sentimentalismos. O pior acontece, e será esquecido
tô de olho no livro dela pela companhia das letras faz um tempinho! parece maravilhosa, ela!
ResponderExcluiruoou! obrigada ada ada cakes, que achado!!!
ResponderExcluirmuito bom o achado mesmo, e olha que eu odeio poesia! haha
ResponderExcluiradorei a biografia dela!
compra, padu!!
ResponderExcluirperaí... que inventou a tag "elemento externo"??
ResponderExcluirfoi caca! acho que tenho que excluir "exterior", achei melhor "elemento externo"
ResponderExcluirDeixa 'exterior' também !! São coisas diferentes e extremamente relevantes para o nosso trabalho na minha opinião...
ResponderExcluirentão tá!
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