Anoder – Ah! Antes que eu me esqueça, tem mais uma coisa que faz parte do ritual.
Anoder apanha uma concha no chão.
Anoder – Ponha no ouvido.
Dam – Não cabe, é muito grande.
Anoder – Não, não precisa enfiar. Apenas encoste no ouvido.
Dam – Pra quê?
Anoder – Ponha.
Dam leva a concha ao ouvido.
Anoder – Esta ouvindo?
Dam – O quê?
Anoder – O mar.
Dam – Isso?
Anoder – É. Não consegue ouvir o som do mar dentro da concha?
Dam – Isso não é o som do mar. Se eu puser um copo no ouvido vou ouvir o mesmo.
Anoder – É claro que é o som do mar, ele fica gravado no interior da concha.
Dam – É nada. Se colocar um pote vou ouvir o mesmo, e o pote nunca esteve no mar.
Anoder – Mas se esse não é o som do mar, que som é esse?
Dam – É o silencio.
Anoder – O silencio?
Dam – É. Esse é o som do silencio.
Anoder – Eu não sabia.
(fragmento da peça "Deus e o Cachorro" de Lourenço Mutarelli)
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