sábado, 11 de fevereiro de 2012

memória submersa 2


Anoder – Ah! Antes que eu me esqueça, tem mais uma coisa que faz parte do ritual.

Anoder apanha uma concha no chão.

Anoder – Ponha no ouvido.

Dam – Não cabe, é muito grande.

Anoder – Não, não precisa enfiar. Apenas encoste no ouvido.

Dam – Pra quê?

Anoder – Ponha.

Dam leva a concha ao ouvido.

Anoder – Esta ouvindo?

Dam – O quê?

Anoder – O mar.

Dam – Isso?

Anoder – É. Não consegue ouvir o som do mar dentro da concha?

Dam – Isso não é o som do mar. Se eu puser um copo no ouvido vou ouvir o mesmo.

Anoder – É claro que é o som do mar, ele fica gravado no interior da concha.

Dam – É nada. Se colocar um pote vou ouvir o mesmo, e o pote nunca esteve no mar.

Anoder – Mas se esse não é o som do mar, que som é esse?

Dam – É o silencio.

Anoder – O silencio?

Dam – É. Esse é o som do silencio.

Anoder – Eu não sabia.
(fragmento da peça "Deus e o Cachorro" de Lourenço Mutarelli)

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