terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Contágio



Algumas pessoas podem apresentar alergia devido a simples presença de alguns insetos e ácaros. As baratas por exemplo, são responsáveis por 30% das alergias humanas, resultado de um estudo feito nos Estados Unidos. Existem pessoas que são extremamente alérgicas a picadas de insetos, podendo inclusive chegar a um choque anafilático fatal com a simples picada de uma abelha. Algumas doenças são transmitidas por insetos que são chamados de vetores, como várias espécies de mosquitos que transmitem a malária, a febre amarela, a filariose, o dengue, entre outras doenças importantes e os barbeiros que transmitem a doença de chagas. Algumas moscas podem causar míiases, isto é, suas larvas crescem no tecido vivo tanto do homem como de outros animais, causando feridas e infecções secundárias.
Ratos transmitem a hantavirose, doença letal; os pombos transmitem a criptococose, fungo que cresce em suas fezes e que ocasiona uma micose que danifica os pulmões e o sistema nervoso central do homem. Transmitem também a psitacose, vírus que ocasiona febre alta e dores de cabeça. Os carrapatos podem causar dermatoses que ocasionam inflamação, prurido, edema e ulceração no local da picada; perda de sangue, condição séria com desenvolvimento de anemia nos animais fortemente infestados; otocaríase, infestação do canal auditivo pelos carrapatos, com possíveis infecções secundárias; toxemia e paralisias, causadas pela inoculação de saliva tóxica nos vertebrados.

A música vem da rua.




Desenvolvimento - Progressão - as necessidades da Causa - Contágio como ferramenta dramatúrgica

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Mais um dela


PAISAGEM COM GRÃO DE AREIA
Nós o chamamos de grão de areia,
mas ele não se considera nem grão nem areia.
Vive perfeitamente bem sem um nome,
seja genérico, particular,
provisório, permanente,
incorreto ou preciso.
Nosso olhar, nosso toque nada significam para ele.
Ele não se sente observado e tocado.
E o fato de que caiu no parapeito
é uma experiência nossa, não dele.
Poderia cair em qualquer outro lugar,
sem saber se parou de cair
ou se continua caindo.
A janela tem uma bela vista do lago,
mas a vista não se vê a si mesma.
Ela existe nesse mundo
sem cor, sem formato,
sem som, sem cheiro e sem dor.
O fundo do lago existe sem chão
e sua margem, sem beira.
Sua água não se sente nem seca nem molhada
e suas ondas nem uma nem muitas.
Elas quebram surdas a seu próprio barulho
em pedras nem grandes nem pequenas.
E tudo isso sob um céu que por natureza não é céu,
onde o sol se põe sem se pôr
e se esconde sem se esconder por trás de uma nuvem indiferente,
agitada por um vento
que sopra apenas por soprar.
Um segundo passa.
Outro.
Um terceiro.
Mas esses três segundos são apenas nossos.
O tempo passou feito um mensageiro com notícias urgentes.
Mas isso é apenas nossa símile.
O personagem é inventado, sua pressa imaginária,
sua notícia desumana.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

?

- tá chovendo, pai, vamos entrar, tá chovendo! vamos, papai, tá chovendo!
tá chovendo, vem papai! tá cho...
- Dan.
- tá chovendo...
- quer parar?
- ah, vou entrar em c...
- entra você, cara!
- quê?
- vai você lá pra dentro!
- ainda bem, porque tá chovendo. (Pausa) Tá chovendo mesmo!
- Paula, vai lá, vai. Paula!
-(voz resmungando ao fundo) no meio dessa chuva...
- Dan, vai lá pra dentro, vai! Seu muquiano!


Sabe quando você esquece como é o sorriso do seu pai? Sabe quando você esquece como é o sorriso do seu pai e dá um silêncio tão oco no estômago que te dá vontade de arrotar alguma coisa? E aí você pega o VHS escrito "Aniversário", vê aquela multidão de pessoas da família que você não faz idéia com cabelos bregas dos anos 90, tudo babando o ovo de uma criança de dois anos de idade com a bunda gorda de fralda. E aí você vê litros e litros de coca-cola em vidro, litros e litros de músicas antigas e um sorriso que você acha que é novo, porque você já esqueceu. E um olho verde apertado como se quisesse enxergar atrás da lente dos olhos que você já esqueceu. Um cheiro de cigarro velho no cabelo rajado que você já esqueceu. E aí você pensa. Como eu faço pra me emocionar com o que eu nem lembro?

Tô de olho nessa mulher!!

O FIM E O INÍCIODepois de toda guerra
alguém tem que fazer a faxina.
As coisas não vão
se ajeitar sozinhas.
Alguém tem que tirar
o entulho das ruas
para que as carroças possam passar
com os corpos.
Alguém tem que abrir caminho
pelo lamaçal e as cinzas,
as molas dos sofás,
os cacos de vidro,
os trapos ensangüentados.
Alguém tem que arrastar o poste
para levantar a parede,
alguém tem que envidraçar a janela,
pôr as portas no lugar.
Não é fotogênico
e leva anos.
Todas as câmeras já foram
para outra guerra.
Precisamos das pontes
e das estações de trem de volta.
Mangas de camisas ficarão gastas
de tanto serem arregaçadas.
Alguém de vassoura na mão
ainda lembra como foi.
Alguém escuta e concorda
assentindo com a cabeça ilesa.
Mas haverá outros por perto
que acharão tudo isso
um pouco chato.
De vez em quando alguém ainda
tem que desenterrar evidências enferrujadas
debaixo de um arbusto
e arrastá-las até o lixo.
Aqueles que sabiam
o que foi tudo isso,
têm que ceder lugar àqueles
que sabem pouco.
E menos que pouco.
E finalmente aos que não sabem nada.
Alguém tem que deitar ali
na grama que cobriu
as causas e conseqüências,
com um matinho entre os dentes
e o olhar perdido nas nuvens.



Wislawa Szymborska nasceu em 1923, no vilarejo polonês de Bninie. Começou a escrever poesia aos vinte e poucos anos. Em 1949, seu primeiro livro foi censurado pelo regime comunista, que o considerou obscuro demais para as massas. Talvez Szymborska tenha levado a sério a advertência, pois a obra que viria a consagrá-la é de uma desafetação exemplar. A dicção é coloquial, despojada de retórica e efeito poético. São poemas claros como água pura.

Mas é possível espantar-se com a água, e assim é Wislawa Szymborska: ela se surpreende, seja com as miudezas da vida, seja com os horrores da História. É uma poesia do assombro. Há um espanto de natureza quase darwiniana, suscitado pelo fato de estarmos aqui - nós e não outros. Há o que nasce da consciência de que ninguém está no centro de nada, de que o mundo segue adiante sem o nosso testemunho. Quanto à História, Szymborska a enfrenta sem abrir a guarda para sentimentalismos. O pior acontece, e será esquecido

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

SHHH! BRILHO SECO N'ÁGUA




No alto do mirante, olhando as estrelas de perto, ouvindo os botos cantarem suas histórias, Nega, uma daquelas amigas que a gente tem e que sabe que nunca mais vai ver, me contou da vez que Xande foi encantado pelos seres mais profundos

o menino pediu tanto, gritou tanto, pulou tanto, que sua mãe, vencida pelo cansaço, resolveu levá-lo junto com ela pra tomar banho no olho do Igarapé. Num momento de desatenção de sua mãe, o menino brincando deslizou da tabua onde estava sentado e caiu n’água. E voou n’água. E pediu tanto, gritou tanto, pulou tanto. O cinza, o denso, o leve, o ar, a falta do ar. Choro (sem lágrima), grito (sem som) – descobriu - as mãos (sem dedos), descobriu os pés (sem chão.), descobriu o eterno, a escuridão. Descobriu seu corpo sem alma, sua alma sem limite, o vazio infinito do presente sangrando sem fim.

Se partiu (não sabe dizer) Tenta encontrar o que perdeu. Não consegue encontrar. CINZA LEVE FALTA GRITO. O garoto dorme. Um momento de desatenção: sua mãe desesperada, nua. Não sabe nadar, não sabe secar o poço, não sabe chorar, corre. OLHO BRINCANDO N’ÁGUA – CHORO PRESENTE SANGRANDO. Nauá (homem branco) que passa pela aldeia. Entregue POR DEDOS, implora NO CHÃO, desfigurada EM SOM, molhada DE LÁGRIMAS. que o homem vá até o fundo do poço – pegue teu filho - culpa. .buraco. silêncio. Agora a negra senhora gorda pinga suor/ seus cabelos presos/ seus olhos em chamas/ seu ventre seco. O menino pediu tanto. Lá estava ele. ..Gritou tanto, pulou tanto.. Como um anjo deitado. ..Vencida pelo cansaço.. Sonhando. ..Resolveu levá-lo junto com ela.. Superfície. Água pelo nariz. Ar nos pequenos pulmões. Em pouco tempo, hospital. CINZA GORDA NUA Não acreditou no médico. Via seu filho estranho. ALMA DORME. Ele não brilha os olhos, não dói o choro, não enfeita as brincadeiras, não trata com carinho... BURACO PINGA SECO. Nega, nua durante 2 anos. Sente frio, dor, angústia...

Parece que o moleque ainda cinza-poço sobrevivia da alma da mãe, a sua ficara presa no fundo do poço. ..Deslizou da tábua onde estava brincando.. .Lembro que quem disse isso (não foi qualquer uma, não). NEGRA VENTRE CANSADO Foi Dona Maria. Mais de 70 anos, FUNDO muitos filhos, muitas caças, FALTA muita pamonha e macaxeira pra cuidar da casa, do roçado e do povo da aldeia. Parece que Dona Maria era a curandeira, cuidadeira. PRESENTE Lembro que era ela que esquentava o coração quando a gente tava nua. TEMPO Parece que foi isso que ela fez: vestiu o coração da Nega enquanto fazia um encanto ENFEITA (muito bem encantado) e gritava bem alto o nome do menino. GAROTO SECO Que era pro som ecoar até o fundo do poço e acordar os pedaços do moleque. Que era pra virem logo brincar de dançar naquele corpinho sem vida. Lembro: “SHHHH” – Nega dizia BRILHO N’ÁGUA - Dona Maria disse que a gente tem que ficar dentro desse quarto, FUNDO não pode sair. SEM FIM.

Enquanto a velha encantava os cantos do poço pra trazerem o menino, o corpinho esperava quieto, vazio e sábio sua própria chegada. PARECE QUE LEMBRO.

Quis escrever aqui por que sinto que foi a única vez que tive aquele rio, aqueles botos, Xande, Nega, as estrelas quase dentro dos meus olhos e aqueles segredos fazendo parte de mim...





segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Chegando do trabalho

Respira fundo.

Sente o ar entrar por suas narinas ressequidas pela quantidade de cigarros que vem fumando.

resolve enrolar um baseado...

Acende,

puxa,

prende,

acalma a fera que anda correndo solta em seu peito.

isso chama-se TPM...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

fragmento nº1...pseudoautobiográfico

Dê o play no vídeo antes de ler!



Os dedos deslizam pelas teclas como querendo dizer algo...

O dono dos dedos não consegue os controlar e escreve coisas que talvez não façam sentido algum...

Na cadeira, ele bebe seu chá da noite (aquele feito para acalmar o espírito e feito para se ter um dia incrível...terminando no fim deste seguinte como heroína do dia, resolvendo mil problemas que não são seus...

mil pensamentos lhe correm a cabeça...mas são histórias suas...só suas...ninguém as quer saber...não interessa nada a ninguém...são apenas suas loucuras...seus mil personagem dentro do corpo querendo agir e este não dando vazão a coisas tão bipolares...

Ela coça a cabeça e se faz cafuné...tem sexo mas não tem amor...está vazia...oca...tem sexo da
melhor qualidade e só...
mas quem disse que aquele sexo era de boa qualidade?

E o que importa seu sexo? Por que está sempre a contar para todos sobre seu

sexo?

Na noite passada estivera na cama de um novo...com quem nunca estivera; gozara...mas gozou mais hoje à tarde com seu vibrador e uma música maluca de uma banda chamada Air...

Se sente a contradição entre o antigo e o novo... tem os dois dentro de si que não se suportam...


Abre as janelas, uma lufada de ar gelado de depois da chuva a emociona e ela chora...
ninguém viu.

Fica pelada. sente-se mais mulher quando consegue olhar os peitos de fora...

quer se embalar e dormir consigo de conchinha...

o quarto a oprime.


acende um baseado e o traga...

pronto, pronto criatura...tens mais algumas horas de tranquilidade.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

memória submersa 2


Anoder – Ah! Antes que eu me esqueça, tem mais uma coisa que faz parte do ritual.

Anoder apanha uma concha no chão.

Anoder – Ponha no ouvido.

Dam – Não cabe, é muito grande.

Anoder – Não, não precisa enfiar. Apenas encoste no ouvido.

Dam – Pra quê?

Anoder – Ponha.

Dam leva a concha ao ouvido.

Anoder – Esta ouvindo?

Dam – O quê?

Anoder – O mar.

Dam – Isso?

Anoder – É. Não consegue ouvir o som do mar dentro da concha?

Dam – Isso não é o som do mar. Se eu puser um copo no ouvido vou ouvir o mesmo.

Anoder – É claro que é o som do mar, ele fica gravado no interior da concha.

Dam – É nada. Se colocar um pote vou ouvir o mesmo, e o pote nunca esteve no mar.

Anoder – Mas se esse não é o som do mar, que som é esse?

Dam – É o silencio.

Anoder – O silencio?

Dam – É. Esse é o som do silencio.

Anoder – Eu não sabia.
(fragmento da peça "Deus e o Cachorro" de Lourenço Mutarelli)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Vocês viram a maluca do maiô?

Deus e o Cachorro


Dam – Seu bisavô então devia falar outro idioma.

Anoder – Se realmente cruzou o oceano, só poderia falar outro idioma.

Dam – Como será?

Anoder – Deve ser igual.

Dam – Como assim?

Anoder – Por exemplo, um cachorro lá é dog.

Dam – Dog?

Anoder – É. Dog é cachorro.

Dam – Caramba!

Anoder – Caramba eu não sei.

Dam – Não, eu disse, caramba! Que coisa! Nossa! Meu Deus!

Anoder – Eu sei que Deus é dog ao contrario.

Dam – Como assim? Um cão quando anda de costas é Deus?

Anoder – Não, dog e God.

Dam – Então Deus, aqui, deveria ser orrohcac.

Anoder – Ou, oãc.

Dam – É verdade.

Anoder – Dog, cachorro.

Dam – Eu tenho uma dúvida.

Anoder – Qual?

Dam – Um dos é um cachorro de lá, mas se vissem um cachorro aqui como seria?

Anoder – Aqui?

Dam – É.

Anoder – Acho que seria cachorro mesmo.

Dam – E um mesmo cachorro pode ser dos e cachorro ao mesmo tempo?

Anoder – Não, porque nenhum corpo pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Dam – E Deus?

Anoder -  Deus pode.

Dam – E então?

Anoder – Nessa você me pegou.

Dam – Então God é o Deus deles?

Anoder – É.

Dam – Politeístas desgracados!


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

memória submersa (ver o vídeo antes de ler o texto)

Paulo acorda todos os dias especificamente às 05:43 da manhã, engole um pão velho da padaria do vendedor obeso que sorri um sorriso simpático e sujo pra cobrir a raiva de quem compra um pão murcho por 50 centavos e joga a velha desculpa da farinha inflacionada, toma uma coca diet inflada de aspartame suficiente pra alimentar o câncer diário, veste a camisa suada de uma marca qualquer e a calça de 1956 do pai. pai? janela de três metros cúbicos de madeira, uma cortina de voal vermelha, brega, um vento de fim de tarde abafado, lento. Pega as chaves surradas do caminhão, checa anotado no braço esquerdo o endereço da mercadoria. Sobre no caminhão, tenta dar a partida 5 vezes. Olha o pára-brisa, sujo de sangue. um bicho. deve ser uma libélula. libélula solta sangue? luz amarelada entrando por entre as brechas da madeira formando um desenho geométrico nos pés, calor. O motor range, o escapamento solta quantidades incontáveis de gases, a rua abafa, nublada. paulo repete o percurso há trinta anos, há sete mil e duzentos dias. existem mais de um milhão de Paulos. existem mais de um milhão de memórias na minha cabeça e nenhuma delas ainda vive, eu tenho medo de que elas só existam quando eu estou ao lado delas. eu tenho medo de não lembrar aonde fica a gaveta de fotos. eu tenho medo de esquecer que existem fotos. A água sobre pelas brechas da madeira, escorre pelas paredes da casa, o som é quase azul.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

As sombras que denunciam o exterior










o voo


Este comentário foi removido pelo e/ou do(s) autor(es).


É tipo sombra, sem matéria alguma, você tá ali... Do lado... ALÍ ! Mas você não é nada. O que você é? Oquequeésombra? Eu não quero ser sombra. Nem sua, nem dela, nem minha. Eu não sei o que eu sou, mas sombra não. Um corpo no espaço... Uma espécie de célula trabalhando... Um mecanismo quase maquinário... Tem um formato de um organismo vivo, apesar de absolutamente programado. Toda sombra parece que funciona, mas não serve pra nada. Parece que trabalha, mas só suga energia. Sabe um lugar...

(Esse silêncio)

Esquece. Parece bonito mas tá doendo.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ucrânia 3


travessão


- desculpa?
- não
- desculpa por tudo?
- não
- desculpa por alguma coisa?
- não.
- desculpa por todas essas memórias?
- não.
- desculpa as falha e... os buracos?
- não.
- desculpa ter quebrado aquela ampulheta de vidro que a sua avó te deu?
- …
- e esse silêncio?
- não desculpo.
- o que você não desculpa?
- não desculpo tudo, não desculpo alguma coisa, não desculpo todas essas memórias, não desculpo as falhas nem os buracos, não desculpo a ampulheta de vidro que a minha avó me deu e você quebrou.
- …
- e esse silêncio?
-  é o que fica
- não. o silêncio vai. você fica.
- e você?
- eu também fico.
- enquanto...
- enquanto eu não te desculpar.
- vamos ficar aqui pra sempre?
- …
- parece que o tempo tá andando pro lado.
- quer um chá?
- não.
- que bom, não tem.



- desculpa?

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Janela



Torcicolo

(Super Espera)E Por falar em janelas... (Super Reverência) Oh, Grande Ser Senhor da Razão! Em algum lugar do mundo estão vivendo todas as criações dos poetas, o amor de verdade, todos os seres dos sonhos, os curupiras e sacis pererês, todos os espaços perdidos da nossa mente, as certezas que se quebram, todas as idéias esquecidas, todas as respostas de todas as perguntas, todas as memórias que deixaram de ser memórias, todas as impressões, todos os lugares imaginados, todos os vultos, todos os caminhos possíveis até que escolhamos um? É que de onde eu venho dizem que vocês colocam um tipo de etiqueta nas coisas de verdadeiro valor: "REAL". Nada disso tem essa etiqueta, pq é claro que pra conseguir esse Super Rótulo as coisas passam pelas provas dos seus Super Cinco Sentidos. E é Super Difícil! Então sobram poucas coisas pra dar o seu Super Rótulo de Super Valor Super Real. É verdade? Mas o que eles são capazes de Super Encontrar e Super Decodificar? Existem seres que conseguem caminhar por esses lados invisíveis, não é? Sem formatos e classificações? Eles conseguem olhar pela janela e se lançar, não é? Eles falam tanto, olham tanto... Morrem secos e cegos de tanto olhar e falar... O labirinto da sua Super Mente? Não sei se sabe, Senhor Super Herói, mas logo do seu lado.. logo aí tão perto, tão pertinho que seus Super Sentidos se queimam antes de conseguirem explodir na dimensão material... tem uma janela. Bem ao lado do seu ouvido direito. Mas você não pode vê-la. Se ao menos pudesse virar seu Super Pescoço para o seu Super Lado Direito e mudar um pouquinho o seu Super Pondo de Vista... Não sabe que mundo iria descobrir... (...) ...Disseram que todos os seres que vêm tentar conversar e contar que ela está aí o Grande Senhor coloca em alguma classificação, para além de tornar suas discriminações organizadas, respeitar a Super Lógica dos seus Super Pontos de Vistas. (Super Silêncio) Por mim tudo bem receber uma Super Classificação de Louca ou Qualquer Outra Super Coisa mas eu não queria desistir... Em volta de você há um mundo de janelas, e muitas delas atravessam você... São dessas de madeira, alumínio, vidro, eras, dessas que você não pode nem contar, nem ver, nem ouvir, nem cheirar, nem tocar, nem sentir... Você só pode saber que ela está lá. E entrar. Entra, Senhor Super, entra... Só precisa se virar um pouquinho... (Super Espectativa) (Super Eterna Super Espera)

Sorria, você está sendo filmado.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

eu vi o paulo... andando de caminhão....


Horizonte do exterior-estrangeiro


Paisagem Submersa de João Castilho, Pedro David, Pedro Motta.


Dam – então é isso?
Anoder – Isso.
Observam uma linha traçada em um cenário.
Anoder – Parece desapontado.
Dam – Não é isso...
Anoder – Mas, parece.
Dam – Acho que estou, mas não queria desapontar você que teve tanto trabalho para me trazer aqui.
Anoder – Tudo bem, eu entendo.
Dam – Foi assim com você?
Anoder – Comigo? Não. Eu, na primeira vez, fiquei deslumbrado.
Dam – Acho que eu tinha muita expectativa.
Anoder – Poder ser.
Dam – Me desculpe.
Anoder – Imagine, não me deve desculpas.
Dam – Mas é sempre assim? Será que eu não vim num dia ruim?
Anoder – Não. É sempre assim.
Dam – Que coisa.
Anoder – É.
Dam – Vamos?
Anoder – Não quer ficar mais um pouco?
Dam – Tenho vontade de ficar quando penso no caminho da volta.
Anoder – É cansativo, não é mesmo?
Dam – Ô!
Anoder – Não quer sentar um pouco?
Dam – A areia me incomoda. Me dá aquelas brotoejas.
Anoder – É alérgico?
Dam – Penso que sim.
Anoder – E um coquetel, não quer?
Dam – Eu não bebo.
Anoder – Não bebe?
Dam – Não bebo.
Anoder – É uma pena. Aqui eles fazem aqueles maravilhosos coquetéis coloridos, com gelo triturado e pequenos guarda-chuvas.
Dam – Eu vi num anuncio.
Anoder – São muito bons, pena que você não bebe.
Dam – Eu parei.
Anoder – É uma decisão sabia.
Dam – Será?
Anoder – Creio que sim.
Dam – Tem aquela historia de que um cálice de tinto a noite ajuda o organismo.
Anoder – Eu bebo um cálice todas as noites.
Dam – Você parece bem.
Anoder – Obrigado.
Pausa.
Anoder – Sabe o que mais me fascina quando estou aqui?
Dam – Os coquetéis?
Anoder – Não, não. Me refiro, de fato, a paisagem.
Dam – O que?
Anoder – Pensar que do outro lado existem os outros e que talvez agora, nesse exato momento, estejam outros dois a olhar o nosso horizonte e a pensar que talvez estejamos aqui.
Dam – Eles pensam isso?
Anoder – Não sei, mas gosto de pensar que sim.
Dam – E eles realmente falam em outro idioma?
Anoder – É o que dizem.
Dam – E pensar?
Anoder – Como assim?
Dam – Será que também pensam em outro idioma?
Anoder – Isso eu não sei, mas penso que sim.
Dam – Mas e quanto a química do pensamento, será que ela muda?
Anoder – Química do pensamento?
Pensativo
Dam – Voce já conheceu alguém que cruzou a fronteira?
Anoder – Meu bisavo.
Dam – Serio?
Anoder – É o que dizem.

...

(Fragmento da peça "Deus e o Cachorro", Mutarelli)

máquina do tempo


urucubaca para não engaiolar imagens


misturar três qualquer cores e meia com nada e além. costurar a realidade variável conforme as vozes e conforme o silencio, pertencer sempre ao outro. pitadas de dúzias de um pó prateado derretendo acometido por insetos. uma enxurrada de mandiocas, sempre tenho que abaixar nessa parte... sempre, não. não, não... você.... vem? um número negativo de mundos possíveis com os seus objetos contingentes. eu não quero mais errar nessa medida. sempre ter que começar de novo. tanto sempre, tanto sempre o tempo nunca. posso parar por hoje? só por ontem. (tentativa de choro baixo. não conseguir) tentativa de choro baixo. não conseguir. cigarro de preto velho, mesma morta língua morta tanto ontem sempre. ai. vem ou não vem? quatro colheres de ferro, uma panela de ferro, uma escultura de ferro do tempo em que o tempo não sabia contar pelas nuvens, uma mensalidade numa escola construtivista no final da rua calma. calma, só daqui a pouco. não ser amado de volta é o que dá esse gostinho doce que você sente no final da vida. (tentativa de risada desesperada) sabe... não tem final. você sabe. você vem? vovem?. tanto ontem quase sempre nunca todas as medidas invertidas. todas medidas vocês nunca quase ontem porém não. é que..... é que.... eu tô ontem aqui quase nunca sorrir aqueles insetos todos mortos vontade desesperada de qualquer coisa que me tire um pouco de não assim não pode.
é tão difícil. tentar sempre de novo. tanto sempre tanto.
elas sempre vem. nunca puras. lembranças insuportáveis. dói aqui dentro do exoesqueleto quitinoso patas articuladas olhos compostos duas antenas palmas das mão e plantas dos pés paralelos
eu sempre esqueço aquela parte, quando você não tá aqui pra me falar lembrar. deste então vou ter que começar do início sempre de novo

:

o não dito

Mulheres na janela. Vez em quando um sutiã...

        Só hoje de manhã me dei conta de como já definimos uma imagem muito forte e a exploramos tão pouco por aqui, na minha opinião.
         Depois me lembrei dessa pintura que a minha mãe ama do Salvador Dalí... Gosto dela por retratar essa cena justamente do meu ângulo na nossa sala de ensaio. Além disso o rosa antigo da parede me remete ao nosso cantinho... Quando penso nos nossos encontros me vem rapidamente a imagem de vocês quatro suadas, de top, na janela.
          O exterior não nos interessava em nada, sua existência se fazia necessária apenas para que pudessemos nomear o interior e este sim tinha um valor imenso! Gosto da figura da mulher olhando pra fora, mesmo que o importante não seja o que ela olha. Aliás é necessário que não seja, pouco importa se para além da janela há um mar, um planeta, um vizinho, uma favela, uma estrada, uma girafa ou uma fazenda de coqueiros. O que interessa é a mulher e o dentro, suas formas, seus apoios, a cor da parede, o formato da janela... 'O exterior está no exterior do interior.'









Deixa pra Clarice

Desculpa pela demora. É que de repente eu fiquei burra. Toda vez que eu tento completar uma frase ela ja se transformou no maior clichê de todos os tempos porque tudo que eu penso é tão infantil quanto a minha aparência, minha voz e meu jeito de menina de catorze anos, café com leite na vida, que se permite rir demais dos próprios erros e falar muito fino quando fica tímida e está sempre envergonhada por ser e estar e parecer uma menina de catorze anos - "Quem sabe ainda sou uma garotinha", viu?! Já escreveram, cantaram, gritaram tudo o que eu tento. - Registrar.

O pior é que você conhece as pessoas, elas ligam pra você, você não atende e elas ligam de novo, convidam você, levam você, gostam de você, ligam pra você, admiram você, elogiam você, escrevem você, leem você, LIGAMPRAVOCÊ, confiam em você, nomeiam você, elegem você e só não matam você porque a essa altura você já se tornou um monstro de quem até você tem medo. Mas agora... Pronto, precisam de você. Iiiiiiih... Agora... Já era. Deu mole. Foi. Falasse antes. Se vira. Paciência. Não dá pra voltar. Melhor nem pensar. Não tem 'se'. Engole o choro. Faz parte. Aguenta. Não vai fazer feio. Feia. Segura o bicho. Segura as pontas. Não apronta. Não adianta. Nem vem. Guenta firme. Junto. Fica. Tudo passa, um pouco já passou, tá passando, 'tudo passa o tempo todo no mundo'- de novo, viu?! Desisto.