sábado, 24 de março de 2012


Vamos prosseguir com a nossa cena. Um cenário de uma sala quase vazia. Serão dez palavras e setenta e dois olhares. Mas você não sempre diz que não gosta de olhar nos olhos das pessoas?  Bom, eu, você e nossos mistérios defasados. Vou te dizer em silêncio que estão molhados porque caiu um ciúme nos meus olhos. Ria, foi uma piada desesperada. Você pega meu cigarro e eu bebo do teu copo. Sabia que dizem que se eu beber do seu copo vou descobrir todos os seus segredos?  Aí eu me levanto da mesa enquanto você come pra desperdiçar o meu tempo escrevendo no ar coisas que não quero que você leia. Me dá um tapa, um beijo, um trago, um gole ou qualquer coisa que me arranque do meu lirismo crônico. Anda, eu já tirei meus óculos. Tudo bem, vamos deitar. Mas me abraça como se a gente estivesse bem, eu não aguentaria desperdiçar os braços que são da dimensão exata da minha falta.
O sol já levantou, já é hora de fingir que a rotina é mais importante que o nosso teatro. E fingir também  faz parte do nosso teatro. Estou saindo, quando a lua tocar o interfone a gente se vê de novo.  Um cumprimento mecânico seguidos de três palavras lindas: obrigado pelo abrigo.

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