quinta-feira, 15 de março de 2012

para analu

relato de um dia à margem


ser um adorno dentro de um transporte móvel, sacudir, ouvir o relincho do trânsito, a cavalaria que passa, desconfiar

carregar um bolinho nas mãos, um amontoado de coberturas doces com corante artificial a dois reais na esquina, oferecer para qualquer um que passa, receber um sorriso sem graça carregado de nojo e desprezo

perceber o olho de quem enoja os pêlos do seu corpo, exige você ser outra coisa

entrar em qualquer lugar para comer qualquer coisa, usar roupas estúpidas e coloridas que não cobrem os pêlos, não ser atendido

pensar que nos trezentos milhões de paulos que ainda existem no mundo dói mais fundo

se sentir um lixo.

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