domingo, 25 de março de 2012
Prólogo
Ela está sempre à procura de paredes que não existem num teatro ou como possibilidade de cenário para a peça. A presença das paredes se faz por sua ausência, o processo do panóptico é a sensação de estar sendo observada do início ao fim e a busca por apoios breves, fricções de afeto. A parede nesse caso é apenas a sensação do panóptico e a janela, a possibilidade do estrangeiro. Início. Ela de costas ereta descrevendo uma parede ao fundo da cena, o mofo de uma parede antiga que se torna céu. A cena é por inteiro céu, e ela se mantém num movimento de locomoção que parte da resistência da sensação de estar sendo puxada para a platéia como uma ímã na coluna. Trilha sonora. Ápice. Fim. Início.
Clarice: Você não deve ter impermeabilizado bem o terraço, porque agora eu posso ver o mofo na parede azul, que antes me parecia horrível, de um branco acinzentado, com pontinhos embolorados amarelos que se expandíam à medida em que se aproximavam do teto. Os amarelos antigos, esverdeavam e novos pontinhos pareciam surgir toda vez que eu olhava a parede. Me incomodava. O borrão cinzento me invadia e eu já não suportava mais. A água que faltou este tempo todo deve ter ressecado uma parte de mim, porque já não me comovem mais os patos, as portas, as pinças, os potros, os panos e todas aquelas coisas que costumavam fazer cosquinha nas minhas entranhas. O sistema elétrico monofásico me deu curtos monogâmicos. Ambos com sombras-bombas-relógio de um porvir autodestrutivo. Lembra do dia em que acordei deitada no teto e o chão tinha caído em mim, por causa das infiltrações subterrâneas geradas pelo movimento peristáltico do centro da terra e pela permeabilidade pluvial do terraço? Foram-se os meses com aquelas bolhas de água infiltradas na minha pele de gesso e cal. Agora já não mais parede e eu toda mofo para além de lá atrás tão branco acinzentado com esses fungos amarelos, de forma que eu mudo o contraste apenas variando a pressão dos olhos. E de repente é tão nuvem que se eu continuar olhando, por mais alguns minutos, sei que chovo. Dá vontade de gritar: A terra é azul! Maligno e lindo, esse céu. É meu. (pausa). Início.
Passagens Padu. (Pensar sobre possíveis entradas e saídas:Troca lâmpada, acrescenta canos)
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muito lindo
ResponderExcluirLindo!
ResponderExcluircara, tão bonito um processo que fale de algo tão pessoal e sincero.
ResponderExcluirGostei bem dessas duas frases: Ambos com sombras-bombas-relógio de um porvir autodestrutivo. - - E de repente é tão nuvem que se eu continuar olhando, por mais alguns minutos, sei que chovo.
ResponderExcluirSEI QUE CHOVO é muito bom!!!!!!!
arrasamos!
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