segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

sobre como contar gotas de chuva


um homem fuma seu cigarro, come seus salgados de bacon, lê seu jornal
uma mulher
briga com o seu marido, faz sua mala, sai de casa
o mesmo homem
não dá a mínima para
cadeiras preferenciais
coleta seletiva
óleo na pia
crianças aidéticas
raios ultravioletas
transgênicos
área de reserva ambiental
não pisar na grama
exame de próstata
câncer de mama
fome na áfrica
violência contra a mulher
reforma agrária
especismo
agente laranja
cotas raciais
golfinhos
na verdade, adoraria caçar golfinhos, assustados, olhos vidrados, correndo sem pernas, tentando proteger os filhotes, e sangrando e demorando pra morrer

solta uma gargalhada
joga o saco do biscoito no chão, o cigarro, catarro, coça o saco e espera a chuva
chove
a mulher
olhos vidrados
passos apressados estupidamente apertados numa saia tubo
o cabelo molhado, uma roda da mala quebrada, chora
o saco fica preso no bueiro, a rua começa a alagar, 800mm por minuto
desiste. tenta se afogar. não consegue, bate com a cabeça

acorda pelada numa cama mais afundada de um lado que de outro 
sem lençol
sem travesseiro
fast food pelo chão
sua cabeça doi, suas coxas doem, sente medo. não consegue ver. o homem se acende num cigarro, lhe leva um copo de coca-cola, se casam em menos de um mês

2 comentários:

  1. arrasou, clé!
    nossa, não tinha me dado conta de como cai tão bem um romance gorduroso na narrativa gordurosa mutarellense

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  2. gosto mt assim rápido de imagens rápidas e jogos de palavras... cla vc arrasa

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