sábado, 28 de janeiro de 2012

espera 1

- traz, por favor, uma garrafa de água, três alto falantes, um sintoma de fraqueza, uma dor de cabeca, mistura com neosaldina com um pouco de sal que dá pra engolir na boa, uma mordida de unha e três mexidas de cabeca daquelas do tempo em que a gente não contava o tal do tempo e perdia os dias sentados na varanda branca de sinteco, de vez em quando ao lado das árvores quietas, lembra, os galos decapitados, as folhas secas mofadas cobrindo os nossos pés empantufados, traz também uma meia, bebendo as três garrafas de água, ouvindo o silêncio das árvores e os três alto falantes na esquina, desminhocando os neurônios de raiva, levantando nas sacudidas pra engolir a seco a neosaldina com um pouco de sal que dá pra engolir na boa, fingindo acalmar, fingindo conversar com as cabeças afirmativas de lá vem aqueles desgrenhados, praguejando e maldizendo os revolucionários, roendo as unhas pra quebrar o silêncio do tempo ressecado, a pele ressecada, a voz ressecada de três mil anos de amargura, aproveitando, traz um pouco de talco branco pra cuidar os nossos pés de anos enterrados e um alicate de unha?





- não.

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