“Quando eu era criança resolvi fazer um pequeno zoológico. Um mini zoológico particular. Peguei um pote de plástico transparente, com tampa de rosquear, que um dia havia acomodado biscoitos amanteigados.
Quando os biscoitos acabaram minha mãe resolveu guardá-lo para reaproveitá-lo um dia. É sempre bom ter um pote guardado caso um dia você queira guardar algo.
Um pote é um pedaço do espaço.
Caminhei ate um terreno baldio que ficava próximo a minha casa e coloquei um pouco de terra no fundo do pote, depois me apropriei de algumas folhas caídas das arvores e pequenos pedaços de gravetos. Feito isso comecei a coletar insetos. Um tatu-bola, uma aranha papa-moscas, uma minhoca, uma formiga, outra formiga, uma borboleta com asa quebrada e uma joaninha. Satisfeito, fui pra casa, instalei meu microcosmo sobre a cama e passei o resto do dia a admirá-lo. No inicio, os insetos eram muito ágeis e inquietos, uns mais outros menos, mas com o passar das horas o ritmo foi diminuindo e se tornando uniforme. Passando um pouco mais de tempo já não se podia diferenciar, por exemplo, a velocidade precisa da aranha com a vacilante lerdeza da joaninha. Tive a impressão de que quando eles tomaram conhecimento de sua condição, de sua impotência frente os limites de seu novo mundo e restrito mundo, de sua infinita solidão e do entorpecimento da vontade, eles passaram a apresentar um ritmo semelhante. Quando a vontade e o oxigênio começaram rarear,os insetos que dividiam o mesmo espaço passaram a partilhar do mesmo tempo.
Para mim todos os insetos eram iguais.
(…)
Eu não sabia que partilhamos o mesmo espaço, mas não partilhamos o mesmo tempo.”(Mutarelli, 2007)
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