quinta-feira, 5 de abril de 2012

Composições individuais

Composições para serem apresentadas no ensaio do dia 16/04 (segunda-feira)
Peço que estejam atentas na composição durante os ensaio da semana que vem, porque vou tentar conduzir o ensaio de uma forma que ajude vocês.

A proposta dessa composição pode parecer mais livre, mas nunca estivemos tão encaminhados. Dou sugestões de caminhos e quero ver a autoria de vocês nela, isso quer dizer que podem incluir o que desejarem.
Não tem regra de duração, à critério de vocês, com consciência. É importante escolher um fim.

PADU- Pra onde mesmo eu disse voar?
Lembra? O poço é escuro, a princípio. Depois, vai clareando. À medida que vai entrando o poço vai clareando. Entrando. Clareando. Que porcaria. Vou mergulhar no poço. Entro assim: as minhas duas mãos se agarram nas paredes rugosas, espera, comecei errado: primeiro, me sento na borda, abro os braços, pra onde mesmo eu disse voar? Não, não, vou entrando raspando os cotovelos na borda, meu deus, esse jeito é muito difícil, acho que vou entrar de outro jeito. Devo realmente entrar no poço? Ou quero entrar no poço pra justificar as coisas escuras que devo dizer? 
...
Sabe quando você esquece como é o sorriso do seu pai?
...
Sabe quando você esquece como é o sorriso do seu pai e dá um silêncio tão oco no estômago que te dá vontade de arrotar alguma coisa? Arrotar palavras. Como eu faço pra me emocionar com o que eu não me lembro?


Compor uma coreografia
(pensar na primeira composição como um aprimoramento)
Introduzir na coreografia - janela (sem a janela)
                                      - Voo
                                      - Bocejo
                                      - Relação de vício com o café, traduzida de alguma forma
                                   
Pensar na transição para o voo do plano alto pro plano médio. Em transições de modo geral. Não pode usar cadeira por isso pode ser bom pensar em possibilidades de plano médio, como o voo. Encontrar o estado de espera causado pela cadeira sem ela.

É importante que você utilize o recurso da repetição como na primeira composição.

escolher alguma música da Cat Power para dançar.

espera / solidão / aprisionamento / repetição / vício / tédio / contágio / dança




CLARICE: Ela se sente observada do início ao fim. Resiste. O corpo é abatido - apatia - falta de energia - o mínimo. Em oposição os pensamentos beram o descontrole, são intensos e tudo a inquieta. Existe uma…

Uma tensão.
Eu to falando de uma… um tipo de… um tipo de... de controle… Para encarar. Trazer pra você uma coisa que é do outro. É que o... É que as pessoas tentam. As pessoas entortam.. e... e de alguma maneira... isso gera alguma coisa. Isso gera alguma coisa que pode ser considerada espontânea e pode ser considerada uma coisa não espontânea. O que é uma coisa não espontânea? Uma coisa não espontânea é uma coisa programada e o que acontece é uma coisa programada. tudo... o que acontece é sempre programado e espontâneo. As coisas que são programadas e espontâneas, como o que a gente está vendo agora...
O olhar da acedia pousa obsessivamente sobre a janela, seu olhar é janela, é externo e distante. Sua capacidade de fantasiar exagerada cria sentido e causa para o que nem visto pode ser. Fabular lhe parece uma linha de fuga e um passatempo. O parecer é mentira por natureza, ou dissimulação. A criação é sempre associada à um risco, um perigo eminente. Seu corpo busca no pequeno espaço que lhe convém, apoios breves e fricções de afeto. Ela nunca ficará bem enquanto não sair da própria cela.
Porque a minha cabeça pesa mais que os meus braços e as minhas pernas e talvez toda a extensão do meu tronco e quando eu afundo assim desta maneira nas mãos eu sinto a matéria dos meus pensamentos com uma textura esfumaçada cinza dilatada seca morta-viva opaca vazia tão cheia de pó como se fosse um daqueles livros que ficavam guardados atrás do vidro naquele quarto que eu podia regular a luz pra ler enquanto você dormia e mesmo assim, controlar a luz não era uma metonímia para mais nada, porque eu não podia reger a velocidade que o sangue corria nas minhas veias e porque você acordava assustada à noite com as minha crises de epilepsia, e eu babava, cuspia sangue pelos olhos, e urinava em nós duas, e ao mesmo tempo em que você tinha medo, você esperava que dessa vez eu morresse e você pudesse sair rastejando daquele quarto, porque você era covarde demais pra me deixar ali, na meia luz, no meio do livro, no meio da vida, no meio da vontade, no meio de nós duas uma montanha enorme cheia de vacas brancas pastando, um riacho de água cristalinas e uma caverna cheia de estalactites que se arremessavam contra e gente, porque você fechava os olhos e torcia para que uma atravessasse a sua cabeça, e eu achando que você era forte demais para aceitar ser fraca e na verdade você era fraca tão fraca só fraca que desmorava com uma dor de cabeça e isso sim eu achava que era uma metonímia, porque todo mundo é sintoma de crise e nessas noites, você não sabe o que eu vi no inferno,  não sabe do vazio, do escuro, das deformações, dos gumes, dos gritos, do babel, do sal, do gosto do cinza azedo confortável, da sua saliva, você não sabe do medo engolidor de facas, nem da loucura, nem de morrer e continuar vivendo e depois disso as duas táo ausente de nós, e do dia em que você engoliu dois, três ou quatro remédios e numa força inerte de 3.000 newtons acendeu a luz no máximo e, foi quando parei de ter cuidado para que as palavras não rasgassem a nossa pele.

 Cla quero que você busque acima de tudo esse corpo melancólico. Quero também que você embarque, desdobre seu material do choque... ele pode ter muitas variações, quero ver tentativas apresentadas com calma e carinho. Eu sei quando você sente prazer de dominar o espaço, quero essa calma do prazer. Você domina como ninguém.




ANALU- O que falta?
 Ela observa a janela como quem vê nada. Porquê tudo significa nada. Porquê nem mesmo janela é possível. Aonde e o que ela vê? Sua cabeça parece a única a expressar o necessário para exaltar a paisagem. A felicidade é a impossibilidade do estrangeiro. A impossibilidade nesse caso é a fantasia, ilusão. Ela é pura ilusão, que por natureza é falta. Ela é contrária, por um lado distante, por outro tão próxima - prática - concreta - presente - irritada à falta de um alicate de unha:

- traz, por favor, uma garrafa de água, três alto falantes, um sintoma de fraqueza, uma dor de cabeca, mistura com neosaldina com um pouco de sal que dá pra engolir na boa, uma mordida de unha e três mexidas de cabeca daquelas do tempo em que a gente não contava o tal do tempo e perdia os dias sentados na varanda branca de sinteco, de vez em quando ao lado das árvores quietas, lembra, os galos decapitados, as folhas secas mofadas cobrindo os nossos pés empantufados, traz também uma meia, bebendo as três garrafas de água, ouvindo o silêncio das árvores e os três alto falantes na esquina, desminhocando os neurônios de raiva, levantando nas sacudidas pra engolir a seco a neosaldina com um pouco de sal que dá pra engolir na boa, fingindo acalmar, fingindo conversar com as cabeças afirmativas de lá vem aqueles desgrenhados, praguejando e maldizendo os revolucionários, roendo as unhas pra quebrar o silêncio do tempo ressecado, a pele ressecada, a voz ressecada de três mil anos de amargura, aproveitando, traz um pouco de talco branco pra cuidar os nossos pés de anos enterrados e um alicate de unha?

- não.
O que falta pra você?

Ana quero que você parta do texto, gostaria muito que decorasse... (pode fazer as modificações que quiser).
São dois os principais pontos da composição: O estado de paisagem / espera / contemplação; 
A fala / Texto.
Quero ver tentativas, possibilidades de direcionamentos desse olhar na cena, e um estudo sobre a inserção dos materiais como a cabeça, o pé queimando ou coçando, o alongamento nesse estado de contemplação da paisagem, esse olhar no horizonte. Prestar atenção que o material da contemplação só funciona quando ele tem um tempo longo de início, como se ele precisasse se estabelecer em duração antes de se desdobrar.






5 comentários:

  1. ana me lembrei de um material seu muito bom... o sussurro de música! pode ser bom nesse contexto.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. "Não tem regra de duração, à critério de vocês, com consciência. É importante escolher um fim" senti que é pra mim

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