sexta-feira, 13 de abril de 2012

baseado em multidões reais

(OBS: aconselho esse exercício para todo mundo. andar com um caderno pelo fluxo intenso da cidade. anotar tudo, imagens, sensações, falas cortadas de quem passa, seu pensamento. resultado: narrativa de multidões. resultado: nenhum. você percebe que tudo é contradição. risco: depressão)

Sente a bolsa vibrar. Toca a bolsa. Não é o celular. Oi? Por que? Tá caindo toda hora. Pensamento letárgico. O olho passa pelo camelôs, não dá tempo de olhar tudo. As mercadorias brilham, centenas delas. Não consegue olhá-las, o olho letárgico. Tem coca? Só coca e guaravita. Zunido, barulho cortante de carros. Carro é som do vento. Início do estacionamento de táxi. Ó, o ônibus que passa no hospital. Luz incide nos corpos, sombras se formam pelo caminho. Não consigo não pisar em sombra. O som tem camadas e camadas, o menino da esquina grita, o ônibus freia, uma velha centenária conversa baixo consigo mesma. Sempre é hora de combater a dengue. Leva dois por um que vale a pena. O bafo de sons. Ai, garoto! O bafo de sons ralentam o tempo. O tempo é denso, o caminho é denso. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende.Vende. Vende. Tá pronto não?! Luzes neon violentam os olhos. Ô, quiqui, casadequê? Família é o caralho. Você quer sacola? Pedreiro, servente, carpinteiro, de forma, ladrireiro, pinto de parede, 500 reais semanal. Transporte complementar. Uma menina pequena pede 50 centavos pra entrar no clube de futebol. Eu pergunto seu nome. Vitória. Pergunto se é feliz. O olho letárgico não olha no olho. Viro o rosto, o tempo lento corre atrás de mim. Volto a cabeça letárgica. Ela fugiu.
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Vitória?








Vitória? Sai da chuva.

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