quarta-feira, 18 de abril de 2012

Antes daqui

De onde eu vim tem um cara que faz nascer os rios. Os rios são largos com águas densas e vermelhas. Um dia eu o vi transformar uma velha em criança só pra fazer o rio nascer. Ele apertava bem a cabeça da velha/ pedia uma tesoura a um amigo/ cortava uns pedaços dos cabelos ralos que ela tinha na cabeça. Depois ele pegou um canivete e na hora eu não tive dúvidas que confiava, e ele cortou. Ele cortou a cabeça da velha. A carne abriu. É. o rio nasceu por entre os miolos dela e veio desaguar cá nos meus olhos. Ele perguntou se eu a amava. Eu nunca tinha visto aquela criança... não sei porque mas disse sim, muito. Eu não duvidava dele, eu duvidava dela. Ela deve ter sentido o poço que se abriu. Algum suspiro, alguma paisagem deve ter invadido a janela nessa hora. Ela teve contato com o lado de fora e eu só pude ficar olhando. Poucas pessoas parem rios tão libertos. Ele arrancou dela muitos sapos, poeira, mofo e um pedaço de uma dor que, sinceramente, acho que ela nunca vai entregar pra ninguém. Isso faz parte do segredo. Ele só conseguiu roubar dela a parte que de hora pra outra ia fazê-la parar de vez de segurar os pepinos. É que na verdade, ela ama pepinos. Ela não gosta é de tomate, dizem que dá câncer.

Um comentário:

  1. uma mistura de real com ficcção, escutei que há uma terceira estância, a do imaginário!

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