segunda-feira, 30 de abril de 2012

Movimento libras

e só. olhar acima e para dentro. tento me mexer aos poucos. o esforço é tão enorme que quase não transparece. um imã saindo de lugar nenhum me puxa como se roubasse minha única possibilidade de sair do lugar. e só. cresço. uma janela? talvez alguém. calma. não. encosto na boca, borboleto com a direita à direita. dedo indicador ao teto. a esquerda com pressa despretensiosa envolve o indicador e retorna com precisão envolve o indicador e retorna com precisão envolve o indicador e retorna com precisão. dois dedos por um milésimo de segundo expostos, então ocultos pelos dois dedos do outro lado tão iguais tão sempre. duas mão juntas como se fossem mergulhar, então voltam para sim, outro mergulho como se pudesse sair, mas bifurcam dedilhando cada uma para o seu lado. a direita em L puxa sem encostar meu rosto para a o outro lugar. fico. a mão como prolongação do antebraço estapeia o ar na altura do quadril esquerdo - se é que quadril são dois - e se ergue rapidamente com palma exposta e dedos colados na altura do rosto à direita, paralelo ao corpo. direita vai à esquerda pra corta o ar e voltar para onde estava. aproximo minha mão que segura um objeto invisível da boca e o ofereço para frente, abaixo de se onde oferecem as coisas a esquerda se aproxima espalhando a posição e apalpo os objetos invisíveis como que  circulares e os afastando. os joelhos dos dedos nas mãos fechadas se encontram num centro abaixo do que costuma ser centro como se tivessem impulso de torcer uma roupa ou lixar uma unha ou dançar. os olhos saem de si à esquerda para acompanhar o desenho das mãos. dois dedos colados da direita esfregam numa linha de ida e volta e fim a clavícula direita. À esquerda abaixo mais abaixo do que o abaixo do centro que não costuma ser centro a direita abre e fecha rapidamente 3 ou 4 vezes em forma de tulipa. o indicador direito deitado atravessa a testa sem encostá-la até virar 4 dedos que acabaram de tampar o rosto sem nunca de fato terem o feito e continuar atravessando o que se segue depois para a direita. de repente captura o ar a direita e quase o traz para si, até perceber que a matéria do vento sempre atravessa qualquer possibilidade. meu olhar acompanha esse desenho de gesto e se perde no mesmo vazio do lado de lá. Os dedos direitos se aproximam dos olhos, circundam 18 graus e cascatam até encontrar o braço esquerdo que lhes serve de rampa. O olhar se encontra mais uma vez. Acompanha os dedos que sobem na direção do cotovelo esquerdo e com um tapa impulsionam o cotovelo de volta para o seu eixo e sobem. mais uma vez palmas expostas. mais uma vez dedos colados. mais uma vez altura do rosto. mais uma vez direita. mais uma vez. não. dois dedos esquerdos como se segurassem o primeiro dente que cai do corpo encontram à direita a mão espelhada e dali puxam um fio invisível de maneira circular - meus olhos se encontram e se perdem durante este movimento -  mão esquerda cai com uma gravidade menor que a que estamos acostumados enquanto a mão direita começa o retrocesso um caminho que começa -ou termina- na testa. Meus dois dedos protagonistas simulam uma caminhada para a direita lentamente. Rebobinam acelerados. e tornam a pertencer ao mesmo caminho de sempre antes, na direção do imã ou de quem me falta ou do que eu falto em mim. o movimento é lento e termina esgostado. o indicador direito corta a minha garganta. a mão esquerda tem espasmos de aceleração no plano esquerdo baixo. a mão direita tulipa numa linha vertical para cima e para baixo 2 ou 3 vezes acima do peito direito. o indicador direito corta a minha garganta. a mão esquerda tem espasmos de aceleração no plano esquerdo baixo. a mão direita tulipa numa linha vertical para cima e para baixo 2 ou 3 vezes acima do peito direito. o indicador direito corta a minha garganta mas leva a pele quase arrancando e puxando com ela todo o corpo. a mão esquerda turbina o corpo com espasmos à esquerda e acelera minha locomoção. o indicador direito continua cortando todas as minhas gargantas que se seguem e a turbina ridiculamente tenta funcionar. Não há fim. Há parede. Ou não. Mas há.

Texto libras

exterior

falar
vigiar
encarar

exterior

trazer
coisa
outro

exterior

nunca
bom
palavras
rasgam
pele
muitas
pessoas
tentam
mas
olhar
pousa
janela

exterior

longe
pensar
morrer
continuar
a viver

morrer
continuar
a viver

sábado, 28 de abril de 2012

Composição coletiva

Composição coletiva para o dia 14/05


Preparar uma cena com o fragmento de texto seguido do Voo, uma parte do diálogo triplo. Se atentar ao tom do texto e à qualidade do corpo, que tipo de movimentação cabe nesse diálogo banal? Com a noção que já temos do todo, eu percebo que essa cena é uma reviravolta na peça, é quando o espectador percebe que o buraco é mais embaixo, é pura dissimulação e representação do sujeito múltiplo, o sarcasmo do concreto, falta de paciência, irritação que não deixa de ser jogo. Quero que vocês resolvam no jogo o que for possível, é importante sentar para discutir mas não deixem de entrar pra jogo.
A cena é mesmo inacabada, não se preocupem com o fim.

(Padu abre os olhos e percebe que Clarice e Analu sempre estiveram ali.)

Pausa

(Padu pede um cigarro.)

Padu - (de saída) Vou fumar um cigarro lá fora.

Clarice - agora?

Padu - (insistindo na vontade de sair) sim.

Clarice - Mas e a conversa inadiável? o cheiro do cigarro fica nas paredes... você sabe que eu não aguento.. você sabe que eu sufoco... Olha pra mim...

Padu para Analu - voce tem fogo?

Analu - você não devia fumar

Clarice - é o que eu digo

Analu para Padu - toma

Padu - brigada.

(Padu acende um cigarro. Traga e faz cara de quem não gosta)

Analu - Já estamos em outubro... Nem parece...

Clarice para Analu - de onde a gente se conhece mesmo?

Analu - acho que do grupo de seminário integrado

Clarice - exatamente. Você mudou um pouco.

Analu - pois é. eu não defendo mais clonagem

Padu - nossa, que radical. por quê?

Analu - Acho interessante quando utilizada para fins terapêuticos. Você não mudou nada.

Clarice - pois é... continuo submetida a uma linha de comando e envolvida por uma atmosfera de camaradagem e cumplicidade com os membros da mesma organização.

Padu - Esse é o problema.  

Clarice - você vai fumar aqui dentro?

Padu - (traga) não. por causa da sua alergia.

Analu - sabe o que é ótimo para essas alergias?

Clarice - Arnica?

Padu - clonagem e homeopatia. é a sua cara.

Analu - pó de falo

Padu - eca

Clarice - O mínimo que se pode esperar de uma clonagem é que seja a sua cara. Essa foi péssima né?! Pó de falo?

Padu - eca

Analu - deixa pra lá, então

Clarice - como se extrai?

Padu - eca

Clarice - escuta, pode me curar

Padu - um dia você vai morrer do mesmo jeito.

Ana Lu - Acabei de ler uma matéria interessante.

Padu- Sobre o que?

Ana Lu- Nanopartículas.

Clarice- Verdadeiras máquinas criadas pelos cientistas para ajudar no tratamento do câncer...

Ana Lu-você já sabe

Clarice-eu tomo diariamente.

Ana Lu - Uau. você parece bem.

Padu-Graças a elas! Se fica um dia sem tomar...você não a reconheceria....

Clarice- Eu sabia. Não devia ter vindo. Eu tinha certeza que era pra isso, como eu pude vir
mesmo assim?

Ana Lu- mas agora você é quem eu estou pensando, né?

Clarice-como eu posso saber o que você está pensando?

Padu- é justo.

Clarice-quer?

Ana Lu- você está vendendo?

Clarice-o que? nanopartículas? Não, é proibido... Eu posso te dar metade..

Padu- e você tomaria só meio comprimido?

Clarice-estou tentando diminuir...

Ana Lu- Sei... é complicado... você soube do harry?

Clarice-Não. Ele não conseguiu parar?

Padu- Não, harry não era um homem de vícios.

Ana Lu- engasgou e morreu

Padu - então é melhor falar de outra coisa.

domingo, 22 de abril de 2012

Cena 1

Meninas esqueci de passar para vocês decorarem a modificação do "Desculpa":




Clarice para padu: É nova.

Padu: O que?

Analu sai

Clarice: A cortina. Comprei ontem, gostou?

Padu: Sério? É...

ameaça sair

Clarice: Você teria um tempinho pra me ajudar? Desculpa, é que eu te vi passando e você é diferente das pessoas que passam por aqui.

Padu: É?

Clarice: É. Você parece mais inteligente e além disso você é mais alta que eu.

Padu: Não sou não.

Clarice: É sim. É só um minutinho mesmo, pode subir em mim... É só pegar aquele livro ali em cima.

Padu: É sério isso?

Se posiciona para que Padu suba. No final, está de quatro. Padu está montada esticando inutilmente os braços

Padu : Acho que não está funcionando.

Clarice: É rapidinho mesmo... Você foi a única a passar que eu tive certeza que conseguiria.

Padu: Não é melhor fazer pezinho?

Clarice: Pode ser... É rapidinho...

Padu: Sério?!

As duas se esforçam para conseguir. Analu volta.

Analu: Lembrei! é que, por exemplo, um cachorro lá é dog.

Clarice: Que bom que você voltou. Assume aqui o meu lugar. Acho que com vocês duas vai dar mais certo

Analu segura Padu. Padu começa a escalar Analu

Analu: Aí é isso, Dog é cachorro. e Deus é cachorro ao contrário. Mas cachorro andando pra trás. É tipo: God, entendeu? Ao contrário

Clarice para Padu: Desculpa

Analu: Desculpa eu não sei

Padu: Não

Padu continua se esforçando para escalar Analu.

Analu: Então o certo seria que Deus, aqui, fosse orrohcac.

Clarice: Desculpa ter esquecido de dar comida aos peixes?

Padu: Não

Clarice: Desculpa não ser uma boa dupla pra jogar cara-a-cara subjetivo?

Padu: Não

Analu: Ou oãc. Dog, cachorro. Mas eu tenho uma dúvida. Dog é um cachorro de lá, mas se vissem um cachorro aqui seria cachorro ou dog? Deve ser cachorro mesmo mesmo. Mas um mesmo cachorro não pode ser cachorro e dog porque um corpo não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo

Clarice: Desculpa tirar fotos suas enquanto você dormia?

Padu: Não.

Clarice: Desculpa que eu não cortei seu cabelo?

Padu: Não.

Clarice: Desculpa ter jogado pela janela a coleção de poeira que a sua avó te deu e que me dava alergia?



Analu: é física



Clarice: E esse silêncio?

Padu: Não desculpo.

Clarice: O que você não desculpa?

Analu: ué, e Deus?

Padu: Não desculpo tudo, não desculpo alguma coisa, não desculpo ter esquecido de dar comida aos peixes,,não desculpo não ser uma boa dupla pra jogar cara-a-cara subjetivo, não desculpo tirar fotos suas enquanto dormia, não desculpo que eu não cortei seu cabelo, não desculpo a coleção de poeira que a minha avó me deu e você jogou pela janela.

Clarice:

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Antes daqui

De onde eu vim tem um cara que faz nascer os rios. Os rios são largos com águas densas e vermelhas. Um dia eu o vi transformar uma velha em criança só pra fazer o rio nascer. Ele apertava bem a cabeça da velha/ pedia uma tesoura a um amigo/ cortava uns pedaços dos cabelos ralos que ela tinha na cabeça. Depois ele pegou um canivete e na hora eu não tive dúvidas que confiava, e ele cortou. Ele cortou a cabeça da velha. A carne abriu. É. o rio nasceu por entre os miolos dela e veio desaguar cá nos meus olhos. Ele perguntou se eu a amava. Eu nunca tinha visto aquela criança... não sei porque mas disse sim, muito. Eu não duvidava dele, eu duvidava dela. Ela deve ter sentido o poço que se abriu. Algum suspiro, alguma paisagem deve ter invadido a janela nessa hora. Ela teve contato com o lado de fora e eu só pude ficar olhando. Poucas pessoas parem rios tão libertos. Ele arrancou dela muitos sapos, poeira, mofo e um pedaço de uma dor que, sinceramente, acho que ela nunca vai entregar pra ninguém. Isso faz parte do segredo. Ele só conseguiu roubar dela a parte que de hora pra outra ia fazê-la parar de vez de segurar os pepinos. É que na verdade, ela ama pepinos. Ela não gosta é de tomate, dizem que dá câncer.

sábado, 14 de abril de 2012

Terra do Nunca


Lourenço falando sobre a gente


O circo acabou. As personagens não buscam o divertimento, o riso ou
a alegria. Elas buscam quase desesperadamente, através do consumo,
o confronto. Não há motivos para rir. O riso é apenas um espasmo.
É preciso acreditar em uma forma de salvação.
Deus não está morto, nunca nasceu.
O palhaço perdeu seu emprego. Nós estamos perdendo os nossos.
É obrigação do palhaço receber nossa arrogância.
O palhaço não é engraçado. Cabe ao palhaço engolir nossa fúria.
Daremos uma festa para um palhaço que não foi convidado.
Já não nos importa a felicidade, importa apenas parecermos felizes.
Dividimos o mesmo espaço. Estamos no mesmo barco, que sabidamente afunda. Só nos resta uma poltrona para que possamos, de forma conotável, aguardar que as aguas nos libertem.
Não para uma nova ou melhor existência mas, para vida nenhuma.
O palhaço enfia a cabeça no balde e a mantém submersa por cinco minutos. A água não mais purifica, apenas abafa o mundo.
Às personagens restam apenas lembranças.
Vagas, imprecisas, que não se compartilham, dividem o mesmo espaço no palco mas não no mesmo tempo.

- Lourenço Mutarelli

sexta-feira, 13 de abril de 2012

BIZARRO

James V. McConnell, afirmava, e ele havia feito uma série de experiências para comprovar sua tese, que a memória não era armazenada no cérebro. Na verdade, o cérebro codificaria proteínas que representariam a memória. Esta proteína poderia ser localizada em algum lugar do corpo, ou até mesmo, no corpo inteiro. O fato é que este não era o detalhe mais importante para ele. A memória não depende da conformação do cérebro.
O cérebro simplesmente construiria a proteína. James McConnell passou a fazer experiências com mamíferos e chegou ao ponto de dizer que havia transferido memória de ratos para gatos, ou seja, de uma espécie para outra.
Foi então que eu parei para pensar e admitir que os índios estavam certos quando comiam seus adversários mais valentes. No mínimo, estariam ganhando sua memória. Pensei ainda que, durante a infância, meu pai tinha o costume de fritar miolo de vaca e, talvez, esta fosse a origem do seu sonho. Um local aberto, belo e ensolarado, com cara de piquenique corresponde muito bem à memória de um bezerro. Estar num pasto feliz e saltitante rodeada por semelhantes e o fato de ver o pai esquartejado parece uma cena comum à vida dos bezerros.
James McConnell está mais certo do que imagina.
As vezes, as coisas não parecem fazer sentido...?


"Polícia encontrou carne humana na geladeira da casa dos assassinos.

Até essa quinta, acreditava-se que o nome de Bruna Cristina, amante de Jorge há sete anos, era Jéssica Camila da Silva, de 22 anos. Mas essa pode ter sido a primeira vítima do grupo. Depois do assassinato, Bruna assumiu a identidade da jovem, que morava em Rio Doce, Olidna, Região Metropolitana do Recife. A menina de 5 anos que morava com os acusados pode ser filha de Jéssica. A polícia ainda investiga outros cinco homicídios que podem ter sido praticados pelos três."


http://www.paraiba.com.br/2012/04/13/66925-assassinos-matavam-esquartejavam-e-vendiam-salgados-recheados-de-carne-humana-em-pe


As vezes, as coisas não parecem fazer sentido...?

baseado em multidões reais

(OBS: aconselho esse exercício para todo mundo. andar com um caderno pelo fluxo intenso da cidade. anotar tudo, imagens, sensações, falas cortadas de quem passa, seu pensamento. resultado: narrativa de multidões. resultado: nenhum. você percebe que tudo é contradição. risco: depressão)

Sente a bolsa vibrar. Toca a bolsa. Não é o celular. Oi? Por que? Tá caindo toda hora. Pensamento letárgico. O olho passa pelo camelôs, não dá tempo de olhar tudo. As mercadorias brilham, centenas delas. Não consegue olhá-las, o olho letárgico. Tem coca? Só coca e guaravita. Zunido, barulho cortante de carros. Carro é som do vento. Início do estacionamento de táxi. Ó, o ônibus que passa no hospital. Luz incide nos corpos, sombras se formam pelo caminho. Não consigo não pisar em sombra. O som tem camadas e camadas, o menino da esquina grita, o ônibus freia, uma velha centenária conversa baixo consigo mesma. Sempre é hora de combater a dengue. Leva dois por um que vale a pena. O bafo de sons. Ai, garoto! O bafo de sons ralentam o tempo. O tempo é denso, o caminho é denso. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende. Vende.Vende. Vende. Tá pronto não?! Luzes neon violentam os olhos. Ô, quiqui, casadequê? Família é o caralho. Você quer sacola? Pedreiro, servente, carpinteiro, de forma, ladrireiro, pinto de parede, 500 reais semanal. Transporte complementar. Uma menina pequena pede 50 centavos pra entrar no clube de futebol. Eu pergunto seu nome. Vitória. Pergunto se é feliz. O olho letárgico não olha no olho. Viro o rosto, o tempo lento corre atrás de mim. Volto a cabeça letárgica. Ela fugiu.
........................



Vitória?








Vitória? Sai da chuva.

O poço.

Nada atesta o seu nascimento. O umbigo é a única prova. Uma cicatriz circular. Circular e profunda.

Impossibilidade de locomoção.

Sobre toda vontade de ficar perto que se torna solidão.

A sensação do panoptico.

Quando se sente observado é natural dissimular. 
Qual o lugar da personagem no projeto?
O que é ser livre?


Existe uma…Uma tensão.
Eu to falando de uma… um tipo de… um tipo de... de controle… Para encarar. Trazer pra você uma coisa que é do outro. É que o... É que as pessoas tentam. As pessoas entortam.. e... e de alguma maneira... isso gera alguma coisa. Isso gera alguma coisa que pode ser considerada espontânea e pode ser considerada uma coisa não espontânea. O que é uma coisa não espontânea? Uma coisa não espontânea é uma coisa programada e o que acontece é uma coisa programada. tudo... o que acontece é sempre programado e espontâneo. As coisas que são programadas e espontâneas, como o que a gente está vendo agora...


quinta-feira, 12 de abril de 2012

Multidão

Ana Lu: DA LICENÇA POR FAVOR! Andei ouvindo umas coisas, e não era coisa boa não. Era coisa que não se diz assim, em qualquer lugar, à qualquer pessoa... Por isso fiquei séria, por isso estou séria hoje. Um burburinho. Ouví barulho de chuva, de cheiro de chuva, e sonhei que a janela estava aberta. Mofo, borrão, gesso e cal. A pressão nos olhos é tão grande que já não enxergo, e caio. Caio da Varanda em cima de alguém. porque a minha cabeça pesa mais que os meus braços e as minhas pernas e talvez toda a extensão do meu tronco e quando eu afundo assim desta maneira nas mãos eu sinto a matéria dos meus pensamentos com uma textura esfumaçada cinza dilatada seca morta-viva opaca vazia tão cheia de pó como se fosse um daqueles livros que ficavam guardados atrás do vidro naquele quarto que eu podia regular a luz pra ler enquanto você dormia e mesmo assim, controlar a luz não era uma metonímia para mais nada, porque eu não podia reger a velocidade que o sangue corria nas minhas veias e porque você acordava assustada à noite com as minha crises de epilepsia, e eu babava, cuspia sangue pelos olhos, e urinava em nós duas, e ao mesmo tempo em que você tinha medo, você esperava que dessa vez eu morresse e você pudesse sair rastejando daquele quarto, porque você era covarde demais pra me deixar ali, na meia luz, no meio do livro, no meio da vida, no meio da vontade, no meio de nós duas uma montanha enorme cheia de vacas brancas pastando, um riacho de água cristalinas e uma caverna cheia de estalactites que se arremessavam contra e gente, porque você fechava os olhos e torcia para que uma atravessasse a sua cabeça, e eu achando que você era forte demais para aceitar ser fraca e na verdade você era fraca tão fraca só fraca que desmorava com uma dor de cabeça e isso sim eu achava que era uma metonímia, porque todo mundo é sintoma de crise e nessas noites, você não sabe o que eu vi no inferno,  não sabe do vazio, do escuro, das deformações, dos gumes, dos gritos, do babel, do sal, do gosto do cinza azedo confortável, da sua saliva, você não sabe do medo engolidor de facas, nem da loucura, nem de morrer e continuar vivendo e depois disso as duas táo ausente de nós, e do dia em que você engoliu dois, três ou quatro remédios e numa força inerte de 3.000 newtons acendeu a luz no máximo e, foi quando parei de ter cuidado para que as palavras não rasgassem a nossa pele.

e continuo

Todo recomeço é o fim

Quantos fins tem um peça? A cada segundo que passa a cena é desterritorializada por esboços de intimidade, sugestões de afetos. Tudo o que parece restar de uma história, todas as ruínas de uma arquitetura de memórias é levada embora, não se sabe para aonde. Até o início, o terceiro sinal é carregado de passado, a peça está sempre para acabar. Não se sabe aonde se diz, nem sobre o que exatamente. Encanamento, tubulações sugerem um entre quatro paredes, interior. Para aonde vão os canos? Toda possibilidade de início é janela, um único mofo na parede de um cômodo parece ser o motivo de tudo. Será que elas resolveram juntas deixar de existir para o mundo?

Ensaio 20 - 9/04/2012

Estudo de sombra.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O Exterior do Interior

É claro que o ruído se torna redundante quando acompanhado de tantos tijolos, tanto mofo e dos mil canos que chegaram com o chá. No prólogo, por exemplo, não sei, não da. O interessante é que sugestiona um ambiente externo, introduz uma certa idéia, apresenta possibilidades do que possa ser o exterior dessa sala de ensaio. Talvez algo que se constrói do lado de fora. Ou até, "tudo em construcão". Uma obra em processo de construcão. Essa obra que nao acaba nunca...

_Ao menos estão construindo, produzindo. E voces, aqui dentro?

... Alem de dancar e falar?

...

Como eu faco pra me emocionar?


panóptico

Policiais à paisana
O coronel Amaury Simões, comandante do 5º BPM (Praça da Harmonia), disse na terça-feira (10), durante uma operação na região, que há cerca de um mês vem adotando o policiamento no entorno da Central do Brasil com dez homens à paisana. Segundo ele, os agentes são monitorados por um policial que fica de observação no ponto alto de um prédio.


http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/04/policiais-cavalo-vao-patrulhar-central-do-brasil-confirma-beltrame.html

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Composições individuais

Composições para serem apresentadas no ensaio do dia 16/04 (segunda-feira)
Peço que estejam atentas na composição durante os ensaio da semana que vem, porque vou tentar conduzir o ensaio de uma forma que ajude vocês.

A proposta dessa composição pode parecer mais livre, mas nunca estivemos tão encaminhados. Dou sugestões de caminhos e quero ver a autoria de vocês nela, isso quer dizer que podem incluir o que desejarem.
Não tem regra de duração, à critério de vocês, com consciência. É importante escolher um fim.

PADU- Pra onde mesmo eu disse voar?
Lembra? O poço é escuro, a princípio. Depois, vai clareando. À medida que vai entrando o poço vai clareando. Entrando. Clareando. Que porcaria. Vou mergulhar no poço. Entro assim: as minhas duas mãos se agarram nas paredes rugosas, espera, comecei errado: primeiro, me sento na borda, abro os braços, pra onde mesmo eu disse voar? Não, não, vou entrando raspando os cotovelos na borda, meu deus, esse jeito é muito difícil, acho que vou entrar de outro jeito. Devo realmente entrar no poço? Ou quero entrar no poço pra justificar as coisas escuras que devo dizer? 
...
Sabe quando você esquece como é o sorriso do seu pai?
...
Sabe quando você esquece como é o sorriso do seu pai e dá um silêncio tão oco no estômago que te dá vontade de arrotar alguma coisa? Arrotar palavras. Como eu faço pra me emocionar com o que eu não me lembro?


Compor uma coreografia
(pensar na primeira composição como um aprimoramento)
Introduzir na coreografia - janela (sem a janela)
                                      - Voo
                                      - Bocejo
                                      - Relação de vício com o café, traduzida de alguma forma
                                   
Pensar na transição para o voo do plano alto pro plano médio. Em transições de modo geral. Não pode usar cadeira por isso pode ser bom pensar em possibilidades de plano médio, como o voo. Encontrar o estado de espera causado pela cadeira sem ela.

É importante que você utilize o recurso da repetição como na primeira composição.

escolher alguma música da Cat Power para dançar.

espera / solidão / aprisionamento / repetição / vício / tédio / contágio / dança




CLARICE: Ela se sente observada do início ao fim. Resiste. O corpo é abatido - apatia - falta de energia - o mínimo. Em oposição os pensamentos beram o descontrole, são intensos e tudo a inquieta. Existe uma…

Uma tensão.
Eu to falando de uma… um tipo de… um tipo de... de controle… Para encarar. Trazer pra você uma coisa que é do outro. É que o... É que as pessoas tentam. As pessoas entortam.. e... e de alguma maneira... isso gera alguma coisa. Isso gera alguma coisa que pode ser considerada espontânea e pode ser considerada uma coisa não espontânea. O que é uma coisa não espontânea? Uma coisa não espontânea é uma coisa programada e o que acontece é uma coisa programada. tudo... o que acontece é sempre programado e espontâneo. As coisas que são programadas e espontâneas, como o que a gente está vendo agora...
O olhar da acedia pousa obsessivamente sobre a janela, seu olhar é janela, é externo e distante. Sua capacidade de fantasiar exagerada cria sentido e causa para o que nem visto pode ser. Fabular lhe parece uma linha de fuga e um passatempo. O parecer é mentira por natureza, ou dissimulação. A criação é sempre associada à um risco, um perigo eminente. Seu corpo busca no pequeno espaço que lhe convém, apoios breves e fricções de afeto. Ela nunca ficará bem enquanto não sair da própria cela.
Porque a minha cabeça pesa mais que os meus braços e as minhas pernas e talvez toda a extensão do meu tronco e quando eu afundo assim desta maneira nas mãos eu sinto a matéria dos meus pensamentos com uma textura esfumaçada cinza dilatada seca morta-viva opaca vazia tão cheia de pó como se fosse um daqueles livros que ficavam guardados atrás do vidro naquele quarto que eu podia regular a luz pra ler enquanto você dormia e mesmo assim, controlar a luz não era uma metonímia para mais nada, porque eu não podia reger a velocidade que o sangue corria nas minhas veias e porque você acordava assustada à noite com as minha crises de epilepsia, e eu babava, cuspia sangue pelos olhos, e urinava em nós duas, e ao mesmo tempo em que você tinha medo, você esperava que dessa vez eu morresse e você pudesse sair rastejando daquele quarto, porque você era covarde demais pra me deixar ali, na meia luz, no meio do livro, no meio da vida, no meio da vontade, no meio de nós duas uma montanha enorme cheia de vacas brancas pastando, um riacho de água cristalinas e uma caverna cheia de estalactites que se arremessavam contra e gente, porque você fechava os olhos e torcia para que uma atravessasse a sua cabeça, e eu achando que você era forte demais para aceitar ser fraca e na verdade você era fraca tão fraca só fraca que desmorava com uma dor de cabeça e isso sim eu achava que era uma metonímia, porque todo mundo é sintoma de crise e nessas noites, você não sabe o que eu vi no inferno,  não sabe do vazio, do escuro, das deformações, dos gumes, dos gritos, do babel, do sal, do gosto do cinza azedo confortável, da sua saliva, você não sabe do medo engolidor de facas, nem da loucura, nem de morrer e continuar vivendo e depois disso as duas táo ausente de nós, e do dia em que você engoliu dois, três ou quatro remédios e numa força inerte de 3.000 newtons acendeu a luz no máximo e, foi quando parei de ter cuidado para que as palavras não rasgassem a nossa pele.

 Cla quero que você busque acima de tudo esse corpo melancólico. Quero também que você embarque, desdobre seu material do choque... ele pode ter muitas variações, quero ver tentativas apresentadas com calma e carinho. Eu sei quando você sente prazer de dominar o espaço, quero essa calma do prazer. Você domina como ninguém.




ANALU- O que falta?
 Ela observa a janela como quem vê nada. Porquê tudo significa nada. Porquê nem mesmo janela é possível. Aonde e o que ela vê? Sua cabeça parece a única a expressar o necessário para exaltar a paisagem. A felicidade é a impossibilidade do estrangeiro. A impossibilidade nesse caso é a fantasia, ilusão. Ela é pura ilusão, que por natureza é falta. Ela é contrária, por um lado distante, por outro tão próxima - prática - concreta - presente - irritada à falta de um alicate de unha:

- traz, por favor, uma garrafa de água, três alto falantes, um sintoma de fraqueza, uma dor de cabeca, mistura com neosaldina com um pouco de sal que dá pra engolir na boa, uma mordida de unha e três mexidas de cabeca daquelas do tempo em que a gente não contava o tal do tempo e perdia os dias sentados na varanda branca de sinteco, de vez em quando ao lado das árvores quietas, lembra, os galos decapitados, as folhas secas mofadas cobrindo os nossos pés empantufados, traz também uma meia, bebendo as três garrafas de água, ouvindo o silêncio das árvores e os três alto falantes na esquina, desminhocando os neurônios de raiva, levantando nas sacudidas pra engolir a seco a neosaldina com um pouco de sal que dá pra engolir na boa, fingindo acalmar, fingindo conversar com as cabeças afirmativas de lá vem aqueles desgrenhados, praguejando e maldizendo os revolucionários, roendo as unhas pra quebrar o silêncio do tempo ressecado, a pele ressecada, a voz ressecada de três mil anos de amargura, aproveitando, traz um pouco de talco branco pra cuidar os nossos pés de anos enterrados e um alicate de unha?

- não.
O que falta pra você?

Ana quero que você parta do texto, gostaria muito que decorasse... (pode fazer as modificações que quiser).
São dois os principais pontos da composição: O estado de paisagem / espera / contemplação; 
A fala / Texto.
Quero ver tentativas, possibilidades de direcionamentos desse olhar na cena, e um estudo sobre a inserção dos materiais como a cabeça, o pé queimando ou coçando, o alongamento nesse estado de contemplação da paisagem, esse olhar no horizonte. Prestar atenção que o material da contemplação só funciona quando ele tem um tempo longo de início, como se ele precisasse se estabelecer em duração antes de se desdobrar.






1, 2, 3, porque não importa a ordem de entrada

3 - meu deus
2 - não lembro o que
3 - acabei de perceber uma coisa naquela última fala
1 - engraçado, isso. percepções são como máquinas do tempo
2 - tinha a ver com..... família talvez?
1 - monstros engolidores de minutos, filosofias de vida, restos mortais, crianças mutiladas presas nessa passagem
3 -  meu deus
2 - esse pedacinho meu é pra minha mãe, aquele é do meu pai porque eu não consigo ver.
3 - você nunca respondeu nada do que eu perguntei, já percebeu?
2 - aí nessa parte em que eles se encontram eu vou desenhar uma borboleta. você tem pilot?
1 - você não ia querer deixar isso aí pra sempre, né? vai acabar presa na sobreposição de como é antes para como era agora. seria terrível
3 - só parece que a gente tá conversando
1 - moléculas de som não acompanham a velocidade dos nossos pensamentos
2 - na hora de correr, as borboletas sempre deixam para traz a que não consegue acompanhar. a gente prendia com alfinete
3 - isso é horrível
2 - eu achava lindo
1 - a probabilidade é de 50 por cento
2 - acho que eu vou escrever uma carta. não. pintar uma capa de livro. não. ficar aqui.
3 - há quanto tempo você já percebeu que a gente fala sozinho?
1 - isso é muito relativo. sempre podem haver questões subliminares adjacentes
2 - foda-se
3 - é, que se foda
1- vai se fuder todo mundo

achei caído por aí

Alastramento 

Existe um lugar - um ponto enigmático e robusto - onde as coisas acontecem. O grotesco se mistura com o gosto tosco e parco do orvalho negro derramado em gotas lamuriosas - caramujo emblemático.
Transtorno Impessoal;
O Drama por excelência é a Madrugada: Nua e só.
Nuvens pálidas pairam, áridas e intragáveis, trazendo à margem o inacessível de seu Cerne. Metidas e fétidas, são pura abstração encardida!! A neblina é como líquido fosco, humoral, donde seres reflexivos, ávidos de vida, obsessivamente translocam;
- Algo acontece -
Desespero apocalíptico; a bola de fogo flamejante se mistura com mistérios turvos galácticos.
Obstruo-me;
O odor desgraçado de alastramentos úmidos transborda em pétalas esquartejadas: Pântano Povoado.
O Desperdício vigora, Dominante. Arquiteta novos planos, perversos e plasmáticos.
Numa esquina desgarrada o desnivelamento místico desaponta – Consumação Íntima.
E as vísceras consomem-se, brandas...
Efervescência Crepuscular.

Faço Surrealismo
pra tentar ser Literal.


Lucineia Raposo