segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

8171


Fm Bbm C Fm e|---------------------------------------------------------1~| B|1-------1---------2------2--1-------1------2-1-----------1~| G|------1---3--1---------3-------3---------0-----3-1-0-----1~| D|----3----------------3-----------------2-------------------| A|------------------1-----------------3----------------------| E|1-----------------------------------------------------1----|


Bang Bang by Nancy Sinatra on Grooveshark




quinta feira à noite, escritório blindado, chovendo lá fora, ninguém nem sabe quem é a porra do Godot


tectectectectectectectectectectectectectectectec
ufffffff
toc toc toc toc toc
ahn ahn.... glup glup glup glup
cof cof COF COF COF cof cof
- levanta os braços, pô!
COF COF COF  cof cof khran khran
......................................
.................................................................
................... tic tic tic tic tic tic
ôu....tic tic tic ôu tic tic haha tic tic tic hahahha OOOU!!!! tic tic tic AUHSA tic tic tic tic US AI AI HAUSHAUSHUSH AI AI AI AUH aiaiaiai HA tic tic tic
POW
- porra!
clic bbrrzzzzzzz psst!ic................bbrrzzzzzzzzz ic............bbrrzzzzzzzzzzzzzzzzzz ic..........bbrrzz...................... ic..................bbrrzzzzzzzzzzzzz........ic.... ic.
psst!
clic
ic..................... ic............................. ic............................. ic...........................
- UAAAAAAAARACACACACACA
- AH!
…..............................................
…...........................................................
…..................................................................................
….......................
….........................................
tectectectectectectectectectectectectectec

espera 2


porque a minha cabeça pesa mais que os meus braços e as minhas pernas e talvez toda a extensão do meu tronco e quando eu afundo assim desta maneira nas mãos eu sinto a matéria dos meus pensamentos com uma textura esfumaçada cinza dilatada seca morta-viva opaca vazia tão cheia de pó como se fosse um daqueles livros que ficavam guardados atrás do vidro naquele quarto que eu podia regular a luz pra ler enquanto você dormia e mesmo assim, controlar a luz não era uma metonímia para mais nada, porque eu não podia reger a velocidade que o sangue corria nas minhas veias e porque você acordava assustada à noite com as minha crises de epilepsia, e eu babava, cuspia sangue pelos olhos, e urinava em nós duas, e ao mesmo tempo em que você tinha medo, você esperava que dessa vez eu morresse e você pudesse sair rastejando daquele quarto, porque você era covarde demais pra me deixar ali, na meia luz, no meio do livro, no meio da vida, no meio da vontade, no meio de nós duas uma montanha enorme cheia de vacas brancas pastando, um riacho de água cristalinas e uma caverna cheia de estalactites que se arremessavam contra e gente, porque você fechava os olhos e torcia para que uma atravessasse a sua cabeça, e eu achando que você era forte demais para aceitar ser fraca e na verdade você era fraca tão fraca só fraca que desmorava com uma dor de cabeça e isso sim eu achava que era uma metonímia, porque todo mundo é sintoma de crise e nessas noites, você não sabe o que eu vi no inferno,  não sabe do vazio, do escuro, das deformações, dos gumes, dos gritos, do babel, do sal, do gosto do cinza azedo confortável, da sua saliva, você não sabe do medo engolidor de facas, nem da loucura, nem de morrer e continuar vivendo e depois disso as duas táo ausente de nós, e do dia em que você engoliu dois, três ou quatro remédios e numa força inerte de 3.000 newtons acendeu a luz no máximo e, foi quando parei de ter cuidado para que as palavras não rasgassem a nossa pele.




e continuo

sábado, 28 de janeiro de 2012

espera 1

- traz, por favor, uma garrafa de água, três alto falantes, um sintoma de fraqueza, uma dor de cabeca, mistura com neosaldina com um pouco de sal que dá pra engolir na boa, uma mordida de unha e três mexidas de cabeca daquelas do tempo em que a gente não contava o tal do tempo e perdia os dias sentados na varanda branca de sinteco, de vez em quando ao lado das árvores quietas, lembra, os galos decapitados, as folhas secas mofadas cobrindo os nossos pés empantufados, traz também uma meia, bebendo as três garrafas de água, ouvindo o silêncio das árvores e os três alto falantes na esquina, desminhocando os neurônios de raiva, levantando nas sacudidas pra engolir a seco a neosaldina com um pouco de sal que dá pra engolir na boa, fingindo acalmar, fingindo conversar com as cabeças afirmativas de lá vem aqueles desgrenhados, praguejando e maldizendo os revolucionários, roendo as unhas pra quebrar o silêncio do tempo ressecado, a pele ressecada, a voz ressecada de três mil anos de amargura, aproveitando, traz um pouco de talco branco pra cuidar os nossos pés de anos enterrados e um alicate de unha?





- não.

para a postagem de kehl da clarice







Helen Levitt

Panóptico


Ao estudar a "Sociedade Disciplinar", Foucault constata que a sua singularidade reside na existência do Desvio diante a Norma. E assim, para "normalizar" o sujeito moderno, foram desenvolvidos mecanismos e dispositivos de vigilância, capazes de interiorizar a culpa e causar no indivíduo remorsos pelos seus actos. Dentre os dispositivos de vigilância do início do século, podemos destacar o Panóptico, de Jeremy Bentham, um mecanismo arquitectural, utilizado para o domínio da distribuição de corpos em diversificadas superfícies (prisões, manicómios, escolas, fábricas). O Panóptico era um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel dividia-se em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia, segundo o objectivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário a trabalhar, um prisioneiro a ser corrigido, um louco tentando corrigir a sua loucura, etc. Na torre havia um vigilante. Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nenhum ponto de sombra e, por conseguinte, tudo o que o indivíduo fazia estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de persianas, de postigos semi-cerrados de modo a poder ver tudo sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo. O Panóptico desfaz a necessidade de combater a violência física com outra violência física, combatendo-a antes, com mecanismos de ordem psicológica.

O Panóptico (...) permite aperfeiçoar o exercício do poder. E isto de várias, maneiras: porque pode reduzir o número dos que o exercem, ao mesmo tempo que multiplica o número daqueles sobre os quais é exercido (...) Sua força é nunca intervir, é se exercer espontaneamente e sem ruído (...) Vigiar todas as dependências onde se quer manter o domínio e o controle. Mesmo quando não há realmente quem, assista do outro lado, o controle é exercido. O importante é (...) que as pessoas se encontrem presas numa situação e poder de que elas mesmas são as portadoras (...) o essencial é que elas se saibam vigiadas.

Focault, (1997), pág: 170


extraído do site  http://www.educ.fc.ul.pt/

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

kehl


ao nascer uma crianca filha de uma prostituta, dava-se como sobrenome a cidade onde nascera, já que esse embrião era um pedaço de todos os homens que viviam ali. Dizia- se que a sua pele era constituída pela matéria gerada no atrito dos corpos comungados … pó de falo. e o seu cabelo eram os crespos pentelhos da sua mãe em nó com os gordos magros banqueiros fazendeiros cachaceiros açougueiros velhos meninos que deveriam aprender a ser homens homens com saudade de serem meninos. afundavam-na no álcool por um inteiro minuto para dissolver a luxúria. funcionava como ácido nas unhas. muitas perdiam a visão parcial ou integralmente. enquanto não andavam ou falavam, viviam no orfanato com as outras crianças, tendo direito ao chão e ao que sobrasse de comida. se sobrasse. aos 5 elas tinham dois caminhos possiveis: caso desolvolvessem algum talento para atividades domésticas ou braçais seriam trocadas por dinheiro, comida, joias, móveis, roupas, espelhos ou qualquer outra coisa. Se fossem consideradas inúteis - o que frequentemente acontecia, já que muitas eram vesgas, mancas, surdas, atrofiadas, incomuns - eram colocadas na rua para sobreviver, caso conseguissem.

conta-se a história de uma vila em alguma cidade decadente, onde as crianças de um orfanato fugiram antes de completarem o quinto aniversário. durante um tempo não se soube delas, provavelmente estariam mortas.

certa noite

uma sombra cobriu as ruas, e os abortados entraram rastejando. silenciosamente mastigaram os pênis de todos os homens da cidade. e abriram um buraco no ventre de cada mulher e costuraram os olhos de cada criança.
na noite seguinte, os castrados colocaram fogo no galpão velho em que dormiam os meninos. as chamas acabaram devastando a cidade inteira.
ainda existem pessoas com sobrenome de cidade. eu não sei o que isso significa.



quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Diálogo 1 e 1/2


 Uma nova possibilidade de organização para alguns materiais: Queria experimentar brincar com os textos dos vídeos, resgatando o máximo de materiais possíveis.

Diálogo 1 e ½:

C: Ela tenta com palavras

A(para B, demonstrando muita vontade de se fazer entender.): Existe uma…Uma tensão.
Eu to falando de uma… um tipo de… um tipo de... de controle… Para encarar. Trazer pra você uma coisa que é do outro. É que o... É que as pessoas tentam. As pessoas entortam.. e... e de alguma maneira... isso gera alguma coisa. Isso gera alguma coisa que pode ser considerada espontânea e pode ser considerada uma coisa não espontânea. O que é uma coisa não espontânea? Uma coisa não espontânea é uma coisa programada e o que acontece é uma coisa programada. tudo... o que acontece é sempre programado e espontâneo. As coisas que são programadas e espontâneas, como o que a gente está vendo agora...

C: Ela tenta sugar, preencher, opor, isopor, hidropônico...

A: Esses momentos que são:

1,2/ eu-você... 1,2/ eu-você...

Progredir, regredir... É se colocar adiante. Num paralelo... Ó: Esse silêncio...
 
                                                  (silêncio)

A: Eu vou levar pra casa e vocês falam que não viram nada tá ?!

(A sai)

B(para C): Você tem alguma coisa pra limpar a unha?(ligeiramente envergonhada) Tipo um palito...

C: Não

B: (demonstrando certa urgência) Ou um outro objeto pequeno, pontiagudo, sei lá... Um lápis...?

C: Não.

B: Uma agulha daria... Ou um cadarço... Você podia me emprestar seu tênis...?

C: Não.

B: (quase histérico) Tampa de caneta é ótimo, nossa! Ou... Aquele arame de fechar saco de pão sabe ?!

C:...

B: (chilique)  Aquele ferrinho que fica preso no final do elástico em pasta, ou... Fósforo, chave também serve... Incenso... Um graveto... Fininho, né?... Espiral de caderno...  Clips... Compasso... Anzol, tomando cuidado, claro... Espeto de churrasco, limpo... Ou um garfo mesmo, uma pinça...  uma arma... 

C: Não. Tô fechando. Quer uma carona?

B: Pode ser...

Quando o sol chover na nossa pele, vamos desejar nunca ter vindo à Terra



No centro da terra borbulha uma força. Um líquido metálico é centrifugado pelas constantes piruetas da Terra.   Esse líquido gera uma força: o campo magnético. Sem ele estaríamos todos sujeitos às radiações do espaço. A cada milésimo de segundo este campo magnétio se torna mais fraco. Em algum tempo, haverá uma completa desgmanetização do planeta. Radiação cósmica. Vento. Silêncio.

Se aproxima da Terra uma tempestade solar. Da noite para o dia, perderemos todo os canais de sistemas de telecomunicação. Televisão. Internet. Energia. Ocorreu, em 1859, uma tempestade geomagnética menor que essa. Causou incêndios em escritórios de telégrafos, eletrificou cabos de transmissão e produziu auroras boreais intensas. Dessa vez não terá volta. Morreremos queimados no escuro.
As erupções solares já ejetaram no espaço uma massa coronal (nuvem de plasma de intenso campo magnético) a uma velocidade fenomenal de 6,4 milhões de km/h.
Auroras boreais cobrirão a Terra um minutos antes de tudo se apagar para sempre. O céu introduz aos poucos o que está por vir. Ri. Venta. Começou a contagem regressiva.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

vídeo 1

Vejo ar. Invejo o passo de onde se passa. Parece tudo programado: da onde vai para onde se fica. Passos iguais, tentativas iguais. De onde se vê o controle de tudo? Eu controlo o meu controle, no máximo um chorinho, choruminho. Não tem choruminho de onde se controla tudo. Pára, você é linda, tá linda. Deixa eu te dar um beijo, tá tudo bem. Sorri pra mim. No máximo, um choro entupido. Tá entupido porque foi programado. Minhas três filhas passam, um pêndulo branco passa, um campo de flores decapitado passa e eu espero pra onde se fica. Da onde se vai. Minha posição fica. Quando passam meu corpo vai, meu corpo vai igual. 1, 2. Um sempre passa o outro sempre passa atrás. É sempre assim, um passa o outro passa logo depois. 1,2. Eu não controlo o controle do mundo, tá tudo programado. Eu não controlo o meu controle do mundo. Volta e meia, pessoa e meia, o choro desentope.


Um lapso desigual. Pra onde mesmo eu disse voar?

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

sp


música da composição da Clarice

sobre como contar gotas de chuva


um homem fuma seu cigarro, come seus salgados de bacon, lê seu jornal
uma mulher
briga com o seu marido, faz sua mala, sai de casa
o mesmo homem
não dá a mínima para
cadeiras preferenciais
coleta seletiva
óleo na pia
crianças aidéticas
raios ultravioletas
transgênicos
área de reserva ambiental
não pisar na grama
exame de próstata
câncer de mama
fome na áfrica
violência contra a mulher
reforma agrária
especismo
agente laranja
cotas raciais
golfinhos
na verdade, adoraria caçar golfinhos, assustados, olhos vidrados, correndo sem pernas, tentando proteger os filhotes, e sangrando e demorando pra morrer

solta uma gargalhada
joga o saco do biscoito no chão, o cigarro, catarro, coça o saco e espera a chuva
chove
a mulher
olhos vidrados
passos apressados estupidamente apertados numa saia tubo
o cabelo molhado, uma roda da mala quebrada, chora
o saco fica preso no bueiro, a rua começa a alagar, 800mm por minuto
desiste. tenta se afogar. não consegue, bate com a cabeça

acorda pelada numa cama mais afundada de um lado que de outro 
sem lençol
sem travesseiro
fast food pelo chão
sua cabeça doi, suas coxas doem, sente medo. não consegue ver. o homem se acende num cigarro, lhe leva um copo de coca-cola, se casam em menos de um mês

testemunhos do caos 1.


um homem tem um orgasmo, uma mulher espera. um ritual de encarnação. Vão todos virar jacarés. alguém grita em qualquer língua que não, não te ama mais. Descer a escada correndo, acelerar contra o tráfego. 2. uma fila de 27 caros carros, mãos enferrujadas. o contorno das unhas sangram. Ninguém em pé na rua. 3. um morto-vivo. nenhuma razão para existir a não ser provocar um acesso de cólera, numa cega que esbarra e cai por cima do corpo putrefato.  4. uma gargalhada. o metrô vai embora 5. 6. chega. um elavador grita. sobe lentamente para ocupar um outro corpo. mãos suadas puxam a corda. 7. duas possibilidades de caminho. escolher sempre o errado. 23. você 24 você 25 você 26 você 27 você 28 você 29 você não existem níveis seguros para o consumo desta substancia.  13. misturar cicuta e mel. beber em 2 goladas e meia. nunca morrer. 4,5 morrer. 3,14 pi. 7,89 razões para não cuspir naquele cobertor compulsivo em cima de você. repulsão ao próprio corpo. autoflagelação. culpa cristã. vontade de trepar com o capeta. 10 esquecer o que é vontade. fingir. 8359472 maneiras de explodir um banco: uma garrafa pet de 2 litros com tampa, pedras de carburetos facilmente encontradas e água. garrafa de vidro, combustível, um pedaço de pano e um palito de fósforo. pegar a espingarda velha do seu avô que vc por algum motivo não trocou por dinheiro na campanha de desarmamento, abrir o cartuxo, tirar a pólvora negra, colocar dentro de um pequeno furo em cima de uma lâmpada. colocar a lâmpada de volta no teto. esperar que ela esteja dormindo deitar ao seu lado ligar o interruptor 0,43782 milésimos de segundo BUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUM. ela acorda assustada. pensa que morreu. você pega a espingarda e estoura a própria cara. seus miolos escorrem pela parede enquanto ela tenta colocar tudo de volta no seu crânio. deixar o pedido para que um amigo projete o vídeo na faixada de um banco. 123 123 123 você volta. não há saída no fim.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Para Aline e Bibi


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Paisagem Submersa de João Castilho, Pedro David, Pedro Motta.
Lorenço Mutarelli - Quando meu pai se encontrou com um E.T fazia um dia quente, 2010
Joan Fontcuberta, 1987

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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Diálogo 1

Clarice me mandou por email a decupagem do vídeo:



CLARICE -  Existe uma…


Uma tensão.


Eu to falando de uma… um tipo de… um tipo de... de controle… que….
Para entrar, trazer pra você uma coisa que é do outro. É que o..... é que as pessoas tentam. As pessoas entortam.. e... e de alguma maneira... isso gera alguma coisa. Isso gera alguma coisa que  pode ser considerada espontânea e pode ser considerada uma coisa não espontânea. O que é
uma coisa não espontânea? Uma coisa espontânea é uma coisa programada e o que acontece é uma coisa programada. tudo... o que acontece é sempre programado e espontâneo. As coisas que são  programadas e espontâneas, como o que a gente está vendo agora.

Ela tenta pôr palavras. Ela tenta... sugar. Preencher. Opor. Impor. Compor. Isopor. Hidropônico. E supor esse.... esse. E esse esses movimentos(ou momentos), que são o que? Dois.  Um, dois eu, você.  Um dois é você.É... progredir regredir e dai... é.... é se colocar diante

(Analu grita) não tá rolando.

(Analu chora, Padu grita, Lu tenta falar, Clarice só observa)

PADU (Lu continua tentando falar)
cochichando:  para. você. agora. para de chorar. eu vou tirar sua roupa. vou tirar sua roupa, hem. VOCE TA RINDO! aaaah, eu consegui, eu consegui! aaaaah!

(todos riem)

CLARICE âdalu u... paga de chogá, âdalu

PADU são pessoas no... no hospício. elas tão num momento de... ligação.
 

CLARICE
âdalu u

PADU elas estão conversando uma coisa ou outra só que ninguém se entende.
 

CLARICE
AH paga de chogá, âdalu!

PADU Uma esta fazendo uns movimentos estranhos, bizarros. como se ela fosse um... um monstro. e o monstro tá prestes a ficar dançando em cima de um (...)
e os dois começam a fazer um ritual de... de.... encarnação. Eles vão virar jacarés

CLARICE
badã dinha

PADU mas eles são muito vaidosos. ficam se depilando. ficam tirando cabelo do... do peito.
Uma senhorinha que perdeu três filhos

CLARICE badãda

(analu chora)

PADU e a senhora...

(clarice chora)

CLARICE é... uma pessoa ri. uma pessoa ri pra fazer outra pessoa rir

LU eu tenho que saber e eu nao sei

CLARICE a lu ta tendo que se esforçar muito

LU eu to perdida

CLARICE esse silencio

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Séries

como ferramenta de produção de drmaturgias.



Multiplicidade - proliferação de séries - repetição como produção de diferença

Questionamentos do prazer no múltiplo

Avant-Garde photographique en allemagne, 1919 - 1939
Peter Beard, 1996
 Lourenço Mutarelli - Quando meu pai se encontrou com um E.T fazia um dia quente, 2011

Gaspar Gaparian, 2010
Joan Fontcuberta, 1987
Lorenço Mutarelli - Quando meu pai se encontrou com um E.T fazia um dia quente, 2010




As ruínas da memória

a memória é o registro do que sobra.

Sete municípios do nordeste do Estado de Minas Gerais foram parcialmente inundados para formar o lago da Usina Hidrelétrica de Irapé, construída no leito do rio Jaquitinhonha, entre as cidades de Berilo e Grão Mogol. Comunidades ribeirinhas tiveram suas terras atingidas e mudaram-se para outras regiões.




Paisagem Submersa de João Castilho, Pedro David, Pedro Motta.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Música é prazer de presente

A música ao mesmo tempo que é manifestação de prazer é composta por organização que ratifica a harmonia. Quem sabe esteja me referindo ao meu desejo por harmonia, que é repulsão ou quem sabe esteja falando mesmo das músicas que fazem parte do nosso dia-a-dia. Das que fazem parte e estabelecem uma fuga, um desvio, ao mesmo tempo. Das que sobrevivem no presente.
Vejo duas possibilidades, a primeira é a música que não representa mas dissimula o externo, tudo o que está fora da sala-de-ensaio, do teatro… ou a superfície, o corpo da música no espaço como figura. A segunda possibilidade que não elimina a primeira, é a ficcionalização do externo, ou a tentativa. É criar experimentos composicionais, pensar dramaturgia sonora e harmonia para ser letrada.

Neste caso uma linda música pode representar multidão.

(Ignorem essa letra melosa, se atentem ao Sax)

É tudo figura

Quem Nasceu by Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil on Grooveshark

Nada além de uma linda ilusão

O exterior está no exterior do interior, nada está no interior de si.

Um movimento externo que desemboca na construção de uma fábula a partir das necessidades da causa. A fábula nada mais é do que a construção de narrativa do sujeito sobre o acaso/presente. Fabular a realidade. Justificar tudo.

O que você vê?

Eu vejo uma situação que acontece, simultaneamente à cena, fora da sela de ensaio, desse pedaço do espaço, do teatro. Elas observando a rua da janela. O verso das embalagens de cigarros são cartas de taro, e as cartas anônimas são em inglês. Parece que o problema é o cheiro do ralo. Parece…

“Faz-se uma ruptura, traça-se uma linha de fuga, mas corre-se sempre o risco de reencontrar nela organizações que reestratificam o conjunto, formações que dão novamente o poder a um significante, atribuições que reconstituem um sujeito.” (Deleuze, Guatarri, 1980, p26)

Esquizofrenia urbana

O processo de individualização em questão, a partir da ficcionalização ideológica da dispersão e da falta de sentido dicotômico da multidão corresponde a uma possível esquizofrenia urbana generalizada, sem nenhum conhecimento médico, mas por sua falta de diagnóstico, ou múltiplos. A multiplicidade e a dispersão da multidão, o excesso de conhecimento e informação caracterizam uma sociedade possivelmente rizomática que não compõe unidade. No meio do caos o indivíduo não condiz com a dispersão , entra em um processo de individualização, solidão, em que só existe EU em subtração. O processo é de subtração… O corpo-máquina entra em colapso em busca de liberdade. Liberdade é prazer?

É possível estabelecer uma relação entre o que foi dito e o movimento dramatúrgico de alguns personagens criados por mutarelli.

É preciso fazer o múltiplo, não acrescentando sempre uma dimensão superior, mas ao contrário, de maneira simples, com força de sobriedade, no nível das dimensões de que se dispõe, sempre n-1 (é somente assim que o uno faz parte do múltiplo, estando sempre subtraído dele).” (Deleuze, Guatarri, 1980, p21)

No conto “Janice e o umbigo”, com força de sobriedade Veronika Stingger narra a história de Janice que perde o interesse de se relacionar com o outro depois de ficar “enamorada” de seu umbigo, de o perceber, se perceber. O conto é curto e narra uma única imagem em desenvolvimento: Janice entrando em seu umbigo. Na medida em que se desenvolve, as sucessivas imagens que são criadas pelas palavras se transformam aos poucos em imagens inimagináveis porém concretas, algo como uma forma sem fôrma. Uma imagem sem limite. Uma experiência da linguagem.

O estado de abstração relativiza o sentido das coisas, ou pelo menos o que designa.

“Num rizoma (…) cada traço não remete necessariamente a um traço lingüístico: cadeias semióticas de toda natureza são aí conectadas a modos de codificação muito diversos, cadeias biológicas, políticas, econômicas, etc., colocando em jogo não somente regimes de signos diferentes, mas também estatutos de estados de coisas.” (Deleuze, Guatarri, 1980, p22)



O Teatro de Sombras

“Quando eu era criança resolvi fazer um pequeno zoológico. Um mini zoológico particular. Peguei um pote de plástico transparente, com tampa de rosquear, que um dia havia acomodado biscoitos amanteigados.
Quando os biscoitos acabaram minha mãe resolveu guardá-lo para reaproveitá-lo um dia. É sempre bom ter um pote guardado caso um dia você queira guardar algo.
Um pote é um pedaço do espaço.
Caminhei ate um terreno baldio que ficava próximo a minha casa e coloquei um pouco de terra no fundo do pote, depois me apropriei de algumas folhas caídas das arvores e pequenos pedaços de gravetos. Feito isso comecei a coletar insetos. Um tatu-bola, uma aranha papa-moscas, uma minhoca, uma formiga, outra formiga, uma borboleta com asa quebrada e uma joaninha. Satisfeito, fui pra casa, instalei meu microcosmo sobre a cama e passei o resto do dia a admirá-lo. No inicio, os insetos eram muito ágeis e inquietos, uns mais outros menos, mas com o passar das horas o ritmo foi diminuindo e se tornando uniforme. Passando um pouco mais de tempo já não se podia diferenciar, por exemplo, a velocidade precisa da aranha com a vacilante lerdeza da joaninha. Tive a impressão de que quando eles tomaram conhecimento de sua condição, de sua impotência frente os limites de seu novo mundo e restrito mundo, de sua infinita solidão e do entorpecimento da vontade, eles passaram a apresentar um ritmo semelhante. Quando a vontade e o oxigênio começaram rarear,os insetos que dividiam o mesmo espaço passaram a partilhar do mesmo tempo.
Para mim todos os insetos eram iguais.
(…)
Eu não sabia que partilhamos o mesmo espaço, mas não partilhamos o mesmo tempo.”(Mutarelli, 2007)

Multiplicidade, Multidão

“Como cada um de nós era vários, já era muita gente. Utilizamos tudo o que nos aproximava, o mais próximo e o mais distante. Distribuímos hábeis pseudônimos para dissimular. Por que preservamos nossos nomes? Por hábito, exclusivamente por hábito. Para passarmos despercebidos. Para tornar imperceptível, não a nós mesmos, mas o que nos faz agir, experimentar ou pensar. E, finalmente, porque é agradável falar como todo mundo e dizer o sol nasce, quando todo mundo sabe que essa é apenas uma maneira de falar. Não chegar ao ponto em que não se diz mais EU, mas ao ponto em que já não tem qualquer importância dizer ou não dizer EU. Não somos mais nós mesmos. Cada um reconhecerá os seus. Fomos ajudados, aspirados, multiplicados.”(Deleuze, Guattari, 1980, p.10)

"O mundo perdeu seu pivô, o sujeito não pode nem mesmo mais fazer dicotomia, mas acede a uma mais alta unidade, de ambivalência ou de sobredeterminação, numa dimensão sempre suplementar àquela de seu objeto. O mundo tornou-se caos(…)” (Deleuze, Guattari, 1980, p13)

A Moça e o Queijo

Andei pensando muito em tudo o que fica, ou o que escolhemos que fica, ou o que fica que tem que ficar, porque o material se impõe como quase a origem da obra: vocês 4 juntas observando a rua da janela (barulho da rua, silêncio). Então a obra nada mais é do que uma justificativa para existir, já que nada existe anterior à criação da cena? Penso que essa obra tem várias origens, porque até aquilo que parece expor e elucidar um horizonte, e as vezes um conforto de uma forma aparentemente solucionada da cena, que na verdade nada soluciona porque ela facilmente se dilui quando esquecida, quando é surpreendida por outro material. O desespero por encontrar a luz. Tudo é material, e o tempo da sobrevivência é o presente: só existe o que é cena. A obra parece ser tudo isso e nada disso ao mesmo tempo: Abajur, canos, luz, colheita de arroz, britadeira, corpo-objeto, sinal supremo de eu quero falar, eu sinto um cheiro de talco no ar: acho que a prefeitura tá desviando verba. Ventiladores, muitos ventiladores. Parece uma célula trabalhando, um vírus. Organismo vivo apesar de absolutamente programável, parece bonito mas tá doendo. Incapacidade de se locomover na multidão. Ó! Deixa pra lá. Deixa ela falar. O seu problema é não acreditar na ilusão. O problema é que você gosta de musical. O problema é que você é metida a atriz contemporânea. O problema é que você escolheu fazer outro teatro que não o nosso, o problema é que mesmo assim eu entendo. O problema é que não temos nem mais nome. Porque até o nome que parecia ser a explicação e a solução de tudo se esgotou justamente por sua totalidade e distância.
Vazio
O peixe da lâmpada que atrai.
esvazio
eu vejo que eu to no lugar certo, eu não vejo mais nada
pinico!