sexta-feira, 24 de agosto de 2012

ensaio 24/08

correntes de vento frio às vezes passam e carregam o corpo para outro ponto do espaço. o corpo não responde mais aos seus impulsos biológicos, ele desintegra no ar. ele perde as limitações da pele, vira corrente, fluxo de gases. certa vez, ouviu um professor dizer que o ar é a liberação de elementos químicos gasosos da atmosfera de um planeta. nunca entendeu. sempre achou que gases eram liberados de outra forma. perde a noção de cronologia, sente que pende para os lados, e consequentemente, tropeça nos passos. não entende linearidade. certa vez, ouviu de um professor que linearidade é um conceito epistemológico. nunca entendeu. sempre achou que fosse epidêmica. não consegue conter o quadril, que repercurte em ondas até a ponta do dedo.

aponta pro céu.



terça-feira, 21 de agosto de 2012

quando o corpo ainda é mas os olhos morrem o que falta?

A mesma história do menino do poço e da falta. do eco.

















Dá licença, por favor. Andei ouvindo umas coisas, e não era coisa boa não. Imagina. Se, se. Se envolta ha multidão. Se estão sós. A multidão. Se são todas uma. Se uma é as duas. Elas se fundem com a fumaça. Se não é nada disso. A pressão nos olhos é tão grande. Caio.

"Heterogênese Urbana" - As doenças psíquicas são frutos da cultura... Por isso, com a mudança permanente de objetos que a mente se relaciona por toda a história da humanidade, estas doenças foram mudando, desaparecendo e dando espaço ao surgimento de outras. A mente adoece em relação.

Numa noite dessas você não sabe o que vi no inferno. já não enxergo e caio.

"Como cada um de nós já era vários, já era muita gente. Utilizamos tudo o que nos aproximava, o mais próximo e o mais distante. Distribuímos hábeis pseudônimos para dissimular. Por que preservamos nossos nomes? Por hábito, exclusivamente, por hábito. Para passarmos desapercebidos. Para tornar imperceptível, não a nós mesmos, mas o que nos faz agir, experimentar ou pensar. E, finalmente, porque é agradável falar como todo mundo e dizer o sol nasce, quando todo mundo sabe que essa é apenas uma maneira de falar. Não chegar ao ponto em que não se diz mais EU, mas ao ponto em que já não tem qualquer importância dizer ou não dizer EU. Não somos mais nós mesmos. Cada um reconhecerá os seus. Fomos ajudados, aspirados multiplicados."


você esperava que dessa vez eu morresse e você pudesse sair rastejando daquele quarto. Nós. eu.

"Esquizofrenia são distúrbios caracterizados em geral por uma perturbação fundamental, com distorções do pensamento e da percepção, e por afetos que são inadequados ou embotados. A perturbação envolve as funções mais básicas que dão à pessoa normal o senso de individualidade, unicidade e direção de si mesma. Os sentimentos, pensamentos e atos mais íntimos são sentidos como conhecidos ou partilhados por outros e podem ocorrer delírios explicativos, que figuram forças naturais ou sobrenaturais.
São quadros onde o indivíduo tem uma desagregação parcial ou total da personalidade, onde obrigatoriamente tem alteração da realidade. O indivíduo tem delírio, ou alucinação ou ilusão, mais pode ter mais de um deles. A esquizofrenia é uma perturbação psiquiátrica caracterizada pela presença de comportamento psicótico (isto é, com dissociação entre pensamento e realidade) ou amplamente desorganizado"


nada é suficiente. Então, invento.

"Epilepsia é uma alteração temporária e reversível do funcionamento do cérebro, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Se ficarem restritos, a crise será chamada parcial; se envolverem os dois hemisférios cerebrais, generalizada. Por isso, algumas pessoas podem ter sintomas mais ou menos evidentes de epilepsia, não significando que o problema tenha menos importância se a crise for menos aparente.

Em crises de ausência, a pessoa apenas apresenta-se "desligada" por alguns instantes, podendo retomar o que estava fazendo em seguida. Em crises parciais simples, o paciente experimenta sensações estranhas, como distorções de percepção ou movimentos descontrolados de uma parte do corpo. Ele pode sentir um medo repentino, um desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente. Se, além disso, perder a consciência, a crise será chamada de parcial complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Tranqüilize-a e leve-a para casa se achar necessário. Em crises tônico-clônicas, o paciente primeiro perde a consciência e cai, ficando com o corpo rígido; depois, as extremidades do corpo tremem e contraem-se. Existem, ainda, vários outros tipos de crises. Quando elas duram mais de 30 minutos sem que a pessoa recupere a consciência, são perigosas, podendo prejudicar as funções cerebrais."


foi quando parei de ter cuidado para que as palavras não rasgassem a nossa pele.

porque todo mundo é sintoma de crise.
e continuo

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

eu, tentando entender. as vezes é só pensamento

um cano. uma direção oca, longilínea. o silêncio oco do vazio. três pessoas resolveram juntas deixar de existir para o mundo. ela pega o cigarro e decide fumar lá fora.
não... uma bifurcação. elas compartilham o mesmo espaço, mas não o mesmo tempo. ela observa a janela, inexpressiva. acha bonito, mas dói.
bifurcação. o mofo parte da parede, invade a cena e parece ser o motivo de tudo. o tempo nos mofa e assim lhe concedemos existência. ela carrega o mofo nas cordas vocais, toda vez que decide se explicar, o espaço é engolido. 379, 548 mil, 785 bilhões, 958 mil bifurcações.
...
quantos fins tem uma peça?

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

explica, explica























 PAULO (TENTATIVA/FALHA N. 000005)


Nascido em 1970, Tongo, Serra Leoa
(Abu Bakarr Mansaray)
Serra Leoa é um dos países mais pobres da África ocidental, na escolha de uma carreira como artista Mansaray tem trabalhado para conter o colapso de uma nação drenada pela guerra civil. Após deixar a escola em 1987, estabeleceu-se em Freetown, onde se tornou um autodidata voraz, estudando todos os aspectos da ciência prática e engenharia. Ele reavivou uma técnica especialmente popular na África central de fabricação de objetos decorativos ou brinquedos de arame e ferro. Mas ele aplicou uma forma extrema desta técnica para construir máquinas futuristas para fins extravagantes, criando engenhocas que poderiam produzir luz, fogo, ar, água, frio, movimento e som. "Eu sou um artista, quero fazer criações sem qualquer limitação. Eu faço desenhos, pinturas, esculturas. . . Também invento máquinas para meu próprio uso em casa e às vezes para outras pessoas ".

Os desenhos preparatórios, Mansaray, também encara como obras independentes. Estes estudos consistem em cálculos detalhados, desenhos, diagramas, e comentários feitos a lápis, caneta esferográfica e lápis de cor. "Eu gosto de fazer desenhos estranhos, complicados e projetar máquinas inspiradas em idéias científicas que são, por vezes, para além da imaginação humana (por exemplo, as máquinas que eu projetei chamadas "Inferno" e "Extintor Telefone Nuclear Descoberto no Inferno") Eu quero que as pessoas sintam o poder da criação." Sem dúvida, a situação económica, política e social em Serra Leoa, um país onde a guerra deixou para trás nada além de ruínas e corpos carbonizados, moldou a imaginação Mansaray e da inspiração. Em 1998 ele conseguiu escapar de seu país em circunstâncias extremamente difíceis, no entanto, sua obra continua a testemunhar os horrores da guerra. 


afinal onde é Ucrn3?

4


o corpo começa a cair


cair é uma experiência nossa 
não do corpo. 

o vento dança o corpo
o corpo rege o vento

e nós, sempre, sem nos saber caindo ou de pé, olhando o tempo como se corpo, na fissura das últimas ideias incompletas, sabendo que o a única certeza é que não agora. nunca agora. 

- aonde você vai?
- você sa...
- eu sei... volta?
- não posso.
- não.
- não quero.
- você vai tomar esse?
(aponta)
- não
(entrega)
- entrega
- toma a seco
- escorre um lágrima
- limpa
- beija
- não!
- vai logo
(sai)
...
(volta)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

“Não vejo a hora de entrar no set”, diz Sandy sobre Quando Eu Era Vivo, filme com base em obra de Lourenço Mutarelli

A cantora interpretará Bruna no longa que adapta o livro A Arte de Produzir Efeito Sem Causa; Antônio Fagundes e Fábio Assunção também estão no elenco
por STELLA RODRIGUES
30 de Maio de 2012 às 17:38





A notícia de que Sandy atuaria em uma adaptação de livro do escritor Lourenço Mutarelli gerou certo grau de estranheza, tanto dentro da comunidade de fãs do autor, que tem entre seus trabalhos O Cheiro do Ralo(levado às telonas por Heitor Dhalia, com Selton Mello protagonizando), quanto no público da cantora. Mas, segundo a própria artista afirmou em entrevista para a Rolling Stone Brasil, desde o início ela foi vista como a pessoa ideal para interpretar o papel de Bruna na produção Quando Eu Era Vivo, versão para o cinema do livro de Mutarelli A Arte de Produzir Efeito Sem Causa. E mais, a identificação foi mútua.
“O pessoal da [produtora] RT Features e o diretor do filme, Marco Dutra, me procuraram. Fizemos uma reunião e eles me disseram que procuravam por ‘Bruna’ e que, na opinião deles, eu me encaixaria perfeitamente na personagem. Li o roteiro com calma e, já na primeira leitura, adorei a ideia e quis seguir em frente”, contou Sandy, sem relevar, contudo, como é a personagem.
O contato anterior dela com a literatura de Mutarelli era pouco, mas a cantora agora está correndo atrás de conhecê-la melhor. “Estou lendo o livro que inspira o filme e gostando muito do estilo do autor, me identifiquei bastante com sua maneira de escrever. Depois disso, com certeza, pretendo conhecer melhor sua obra”, afirma.
A carreira de atriz de Sandy está florescendo. Mas, ao mesmo tempo, há sempre um cuidado por parte dela para fazer isso caber em sua vida sem deixar de lado os trabalhos musicais. “Na verdade, esta ‘retomada’ na carreira de atriz se deu naturalmente”, ela explica. “Alguns convites chegaram até mim, resolvi entender melhor do que se tratavam e adorei encarar estes novos desafios. Atuei em um dos episódios de As Brasileiras e, um tempinho depois, rolou o convite para voltar ao cinema. Fiquei muito feliz, estudei a melhor forma de encaixar na minha agenda e resolvi ir em frente. Meu foco principal continua sendo a música. Retomei minha turnê Manuscrito e, em paralelo, farei mais algumas apresentações do Projeto Covers, em que interpreto músicas do Michael Jackson. Além disso, já começo a planejar meu próximo projeto musical. Quem sabe, logo apareço com novidades...”, afirma, misteriosamente, sem esclarecer mais sobre o que vem pela frente.
“Nem me fale”, exclama ela quando o assunto é o elenco estrelado que a acompanha no longa. Não é nada mal para uma atriz ter seu primeiro grande papel no cinema (se descontarmos o incipienteAcquária, que ela fez com o irmão, Junior) ao lado de Antônio Fagundes e Fábio Assunção, dois dos que integram o time de atores de Quando Eu Era Vivo. “Contracenar com eles será mais do que uma honra, um motivo de grande orgulho... Quero absorver ao máximo tamanha bagagem destes dois atores e tudo o que eles possam me ensinar”, diz. “Começamos a rodar em agosto. A preparação de elenco deve acontecer em julho. Por enquanto, estou estudando o roteiro, os diálogos, lendo o livro, entendendo um pouco de Bruna e demais personagens e trocando muitas ideias com o diretor Marco Dutra. Não vejo a hora de entrar no set!”

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

rascunho2


[abril pós chá. clé]

rascunho1

[olha o que eu achei preso nos rascunhos do dia 6 de março de 2012! cleris]

A: A poeira fina que ocupava o espaço onde antes ficava a sua estante, eu varri como quem varre os destroços de uma guerra. O vazio não. Eu bem que tentei. Só tentei. O vazio só é. Só sou. So so... O mofo da parede eu só vi agora, depois que as suas coisas saíram debaixo da mesa. Você vai ter que voltar pra me ajudar  resolver, quando vier dar uma força com as garrafas de cerveja, que você bebeu, diga-se de passagem. Não esquece tá?! Eu nem estarei em casa essa semana, você tá com medo de mim agora? Que coisa esquisita... Eu não vou te agarrar! 
B:Chega.
A:(para si) O processo é de subtração. Liberdade é prazer. Música é prazer de presente. Respira. 
C: "pegar a espingarda velha do seu avô que você por algum motivo não trocou por dinheiro na campanha de desarmamento, abrir o cartuxo, tirar a pólvora negra, colocar dentro de um pequeno furo em cima de uma lâmpada. colocar a lâmpada de volta no teto. esperar que ela esteja dormindo deitar ao seu lado ligar o interruptor 0,43782 milésimos de segundo BUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUM."
A: As vezes eu fico com vontade de mandar uma mensagem fofinha idiota do tipo: "Lembra do nosso ninho? Nosso cantinho?"
C: Tenta se afogar. Não consegue. 
A: Pra onde mesmo eu disse voar? A sensação é de um sol... Um sol, que de alguma maneira chove... Um sol... Parece que é bonito, mas tá doendo... Parece que vive, mas é absolutamente programado... É como se um sol chovesse na pele, é isso.
B: Não dá pra trazer pra você uma coisa que é do outro.
A: Mas eu não sinto só o sol... É como se me observassem o tempo todo. Você talvez. E ainda que não haja observador nenhum 'o essencial é se sentir observado' Foucault, lembra? Esquece... "Basta um possível olhar superior central, vigilante, de modo que tudo veja sem ser visto, porém sendo de extrema importância que o vigiado se conscientize dessa observação constante." Um golpe psicológico. Trata-se de pura especulação, na íntegra. Esquece. É Foucault, você não vai entender. Traz por favor, uma garrafa de água, três alto falantes, um sintoma de fraqueza, uma dor de cabeça, mistura com neosaldina com um pouco de sal que dá pra engolir na boa, uma mordida de unha e três mexidas de cabça daquelas do tempo em que a gente não contava o tal do tempo e perdia os dias sentados na varanda branca de sinteco, de vez em quando ao lado das árvores quietas. Aproveitando, traz um pouco de talco branco pra cuidar os nossos pés de anos enterrados e um alicate de unha?
B: Não
C: Tentativa de choro baixo. Não conseguir. Tentativa de choro baixo. Não conseguir. 
A: Parece vivo, mas é absolutamente programado. Não ser amado de volta é que dá esse gostinho doce no final da vida.
C: Tentativa de gargalhar desvairadamente. Não conseguir.

A:  então é isso?
C: Isso. Parece desapontado.
A: Não é isso...
C: Mas, parece.
A: Acho que estou, mas não queria desapontar você que teve tanto trabalho para me trazer aqui.
C: Tudo bem, eu entendo.
A: Foi assim com você?
C: Comigo? Não. Eu, na primeira vez, fiquei deslumbrado.
A: Acho que eu tinha muita expectativa.
C: Poder ser.
A: Me desculpe.
C: Imagine, não me deve desculpas.
A: Mas é sempre assim? Será que eu não vim num dia ruim?
C: Não. É sempre assim.
A: Que coisa.
C: É.
A: Vamos?
C: Não quer ficar mais um pouco?
A: Tenho vontade de ficar quando penso no caminho da volta.
C: É cansativo, não é mesmo?
A: Ô!
C: Não quer sentar um pouco?
A: A areia me incomoda. Me dá aquelas brotoejas.
C: É alérgica?
A: Penso que sim.
C: E um coquetel, não quer?
A: Eu não bebo.
C: Não bebe?
A: Não bebo.
C: É uma pena. Aqui eles fazem aqueles maravilhosos coquetéis coloridos, com gelo triturado e pequenos guarda-chuvas.
A: Eu vi num anuncio.
C: São muito bons, pena que você não bebe.
A: Eu parei.
C: É uma decisão sabia.
A: Será?
C: Creio que sim.
A: Tem aquela historia de que um cálice de tinto a noite ajuda o organismo.
C: Eu bebo um cálice todas as noites.
A: Você parece bem.
C: Obrigado.
Pausa.
C: Sabe o que mais me fascina quando estou aqui?
A: Os coquetéis?
C: Não, não. Me refiro, de fato, a paisagem.
A: O que?
C: Pensar que do outro lado existem os outros e que talvez agora, nesse exato momento, estejam outros dois a olhar o nosso horizonte e a pensar que talvez estejamos aqui.
A: Eles pensam isso?
C: Não sei, mas gosto de pensar que sim.
A: E eles realmente falam em outro idioma?
C: É o que dizem.
A: E pensar?
C: Como assim?
A: Será que também pensam em outro idioma?
C: Isso eu não sei, mas penso que sim.
A: Mas e quanto a química do pensamento, será que ela muda?
C: Química do pensamento?
A: Voce já conheceu alguém que cruzou a fronteira?
C: Meu bisavo.
A: Serio?
C: É o que dizem.
A:Seu bisavô então devia falar outro idioma.
C: Se realmente cruzou o oceano, só poderia falar outro idioma.
A:Como será?
C: Deve ser igual.
A: Como assim?
C: Por exemplo, um cachorro lá é dog.
A: Dog?
C: É. Dog é cachorro.
A: Caramba!
C: Caramba eu não sei.
A: Não, eu disse, caramba! Que coisa! Nossa! Meu Deus!
C: Eu sei que Deus é dog ao contrario.
A: Como assim? Um cão quando anda de costas é Deus?
C:Não, dog e God.
A: Então Deus, aqui, deveria ser orrohcac.
C: Ou, oãc.
A: É verdade.
C: Dog, cachorro.
A: Eu tenho uma dúvida.
C: Qual?
A: Um dos é um cachorro de lá, mas se vissem um cachorro aqui como seria?
C: Aqui?
A: É.
C Acho que seria cachorro mesmo.
A: E um mesmo cachorro pode ser dos e cachorro ao mesmo tempo?
C: Não, porque nenhum corpo pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.
A: E Deus?
C:  Deus pode.
A: E então?
C: Nessa você me pegou.
A: Então God é o Deus deles?
C: É.
A: Politeístas desgraçados!(para B que passa) É novo.
B: O que?
A: O lustre. Comprei ontem, gostou?
B: Sério? É...
A:Você teria um tempinho pra me ajudar é que eu não alcanço a lâmpada você é mais alta...
B: Não sou não.
A: É só um minutinho mesmo, pode subir em mim...
B: Eu estou do mesmo tamanho que eu estaria se estivesse em pé...
A: É rapidinho mesmo... Você parece mais inteligente do que as pessoas que passam por aqui...
B: Sério? Não é melhor fazer pezinho?
A: Pode ser... É rapidinho... 
B: Sério?! Cuidado hein?! Calma...
A: desculpa?
B: não
A: desculpa por tudo?
B:não
A: desculpa por alguma coisa?
B: não.
A: desculpa por todas essas memórias?
B: não.
A: desculpa as falha e... os buracos?
B: não.
A: desculpa ter quebrado aquela ampulheta de vidro que a sua avó te deu?
B:…
A: E esse silêncio?
B: não desculpo.
A: o que você não desculpa?
B: não desculpo tudo, não desculpo alguma coisa, não desculpo todas essas memórias, não desculpo as falhas nem os buracos, não desculpo a ampulheta de vidro que a minha avó me deu e você quebrou.
A: …
B: e esse silêncio?
A:  é o que fica
B: não. o silêncio vai. você fica.
A: e você?
B: eu também fico.
A: enquanto...
B: enquanto eu não te desculpar.
A: vamos ficar aqui pra sempre?
B: …
A: parece que o tempo tá andando pro lado.
B: Quer um chá?
A: Não.
B: Que bom, não tem.



A: Desculpa?







esse algo do tempo de andar pro lado é mais ou menos assim:


- acordar e dormir ciclicamente até esquecer qual dos dois implica em permanecer acordado ou dormindo

- respiração acelerada com impulso dos ventos nas costas mesmo com a janela fechada

- abrir a janela e engolir um pedaço do dia

- lembrar de algum sonho, inventando todas as partes que vieram cinzas

- fazer um oito com a orelha no próprio ombro para se sentir menos só e um tanto mais na companhia dos ruídos

- deitar no chão, olhando pra cima e esperar a lagartixa virar morcego. saber que ela espera o mesmo de você

- caminhar com os dedos pelas montanhas geladas de verduras apodrecidas na geladeira até afundar numa areia movediça

- ver, de relance, um pedaço seu fugindo com o circo encanamento abaixo

- perder a ternura, mas sem endurecer

- dormir com os braços esticados para cima e as mãos abertas, para aeroportizar insetos

- pensar em você tão rápido que é quase real

- com o tempo, o alívio de se saber mais fantoche e menos gente

você se sentiria menos sozinha sem mim ou eu sou seu melhor buraco ensurdecedor de possibilidade de borboleta no umbigo da ventania? não precisa pensar mais. dorme agora que eu eu te amparo os vícios e os degluto em verbo

merda!


manual ucraniano

desliguem seus celulares, não abram zípers e não comam chocolates no meio da peça.
fotografem especialmente no panóptico.
o riso é só um espasmo.
bom espetáculo.