terça-feira, 1 de maio de 2012
Início de um novo fim.
(Ana Lu deitada no chão observando algo no urdimento. Inicialmente parece descrever o que vê e aos poucos embarca na ficção, como se a história do menino do poço partisse do concreto, do que enxerga no teto, do refletor talvez.) Escuridão. No fundo talvez uma possibilidade, não sei, um vestígio... Quem sabe?... Não é luz no fim do túnel. Não estou falando de morte, por favor. Ainda que possa ser fim. Compartilhar o mesmo espaço nada tem a ver com tempo. E continuo. O menino perdido, jogado, sozinho, feito grão de areia, no fundo do poço. Mas ele não se considera grão, nem menino, nem areia. Vive perfeitamente sem um nome, seja genérico, particular, provisório, permanente, incorreto ou preciso. Nosso olhar, nosso toque, nada significam pra ele. E o fato de ter caído no poço é uma experiência nossa, não dele. Poderia cair em qualquer outro lugar, sem saber se parou de cair ou se continua caindo. O fundo do lago existe sem chão e sua margem sem beira. Sua água não se sente nem seca, nem molhada e suas ondas nem uma nem muitas. Gritam um nome. Seu nome, que a essa altura, já não diz mais nada a seu respeito. E mesmo quando seu corpo é retirado do poço, há algo que fica. Sempre esquecemos alguma coisa. Resta um rastro. Ninguém se deu o trabalho de apagar as pistas e ainda que tentassem , sempre um vestígio sobra. O corpo não tinha fome, se ela ficou no poço eu não sei. O corpo já não se sentia grão, nem areia, nem nada. Quem sou eu pra inventar o que ele deixou no poço, mas faltava tanto do menino no corpo que me arrisco a dizer que o poço transbordou, virou rio, inundou a tribo e varreu todo o resto. E agora resta um som, quase azul, quase assim:(canta)
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