quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

domingo, 25 de novembro de 2012

epifania 2

As cidades delgadas - 1

Presume-se que Isaura, cidade dos mil poços, esteja situada em cima de um profundo lago subterrâneo. A cidade se estendeu exclusivamente até os lugares em que os habitantes conseguiram extrair água escavando na terra longos buracos verticais: o seu perímetro verdejante reproduz o das margens escuras do lago submerso, uma paisagem invisível condiciona a paisagem visível, tudo o que se move à luz do sol é impelido pelas ondas enclausuradas que quebram sob o céu calcário das rochas. 


Em conseqüência disso, Isaura apresenta duas religiões diferentes. Os deuses da cidade, segundo alguns, vivem nas profundidades, no lago negro que nutre as veias subterrâneas. Segundo outros, os deuses vivem nos baldes que, erguidos pelas cordas, surgem nos parapeitos dos poços, nas roldanas que giram, nos alcatruzes das noras, nas alavancas das bombas, nas pás dos moinhos de vento que puxam a água das escavações, nas torres de andaimes que sustentam a perfuração das sondas, nos reservatórios suspensos por andas no alto dos edifícios, nos estreitos arcos dos aquedutos, em todas as colunas de água, tubos verticais, tranquetas, registros, até alcançar os cataventos acima dos andaimes de Isaura, cidade que se move para o alto. 

- Cidades invisíveis, Ítalo Calvino.



as conexões, os tubos, os canos revelam a conexão da paisagem visível, condicionada pela paisagem invisível, submersa?

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

quase fim do fim

Não, não sei muito de lá, sabe? Mas aqui o tempo ainda não começou. Compartilhar o mesmo espaço não tem a ver com tempo. Essa pressão... (os homens são mudos, os nomes não existem, a linguagem vai ser inventada...) nos olhos...
No começo era eu, comendo os cantos da parede, escondido, baixinho, beixinho, mais baixo, mais. Até sumir. A cabeça afirmativa.
Que nem a história da aldeia, lembra? (cantarolar) mesmo tamanho. Virou areia. Grãorruído. Ninguém ouviu o menino se afogar. Ninguém nunca me vê mastigando os rebocos. E o fato de ter caído no poço é uma experiência nossa, não dele. Podia ter caído em qualquer lugar,

o menino

sem saber se parou de cair ou se continua caindo. E mesmo quando seu corpo é retirado do poço, fica. Sempre esquecemos alguma coisa... Ninguém se deu ao trabalho de tampar o poço.

quase no
fundo do mesmo
menino
que ao mundo
veio
pra
nun
ca
vol
tar

Saiu sem vontade. Já não se sentia nada. se sentia nada. Quem sou eu pra inventar o que ele deixou no poço, mas faltava tanto de mundo no menino caído no tempo que a aldeia

(tempo)

Devora o teu choro
que o mundo em coro vai
pas
sar

me a'

risco a dizer que o poço transbordou, virou rio, inundou a ribo e varreeeeeeeeeu todo o resto. Agra resta um som, quase azul, quase:

domingo, 30 de setembro de 2012